Título: Lula: `Economia ainda é vulnerável¿
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 29/07/2005, O País, p. 3

Presidente diz que é preciso cuidado e que não é possível brincar nem fazer mágica nesta área

Num discurso em que dizia falar ¿com o coração e com a consciência¿, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que a economia brasileira é ainda ¿muito vulnerável¿ às oscilações do mercado e que por isso não é possível brincar nesta área. Ao falar para funcionários de uma refinaria da Petrobras em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, Lula evitou falar em crise política, mas destacou que a economia precisa ser tratada com cuidado, sem pressa nem ufanismo.

¿ A economia brasileira, tivemos que tratá-la com o cuidado que precisa ser tratada, sem a pressa e o ufanismo com que, muitas vezes, alguém quer que a gente trate, porque somos ainda uma economia muito vulnerável, temos problemas sérios e não podemos brincar nesta parte, para que a gente não tenha um retrocesso.

Para ele, o país não pode depender de fórmulas mágicas para impulsionar a economia.

¿ O Brasil sempre ficou apostando que iria aparecer um mágico e que iríamos tirar um economista do bolso, da cartola, não sei de quem ou de onde, e aquele economista iria fazer um plano que salvaria o país. Todos, historicamente, que tentaram fazer mágica quebraram a cara, porque uma coisa é mágica acadêmica, outra é a praticidade do mercado e da sociedade. O que incomoda muita gente neste país é que não fizemos qualquer loucura ¿ disse, sem citar a redução da previsão da taxa de crescimento da economia, de 4% para 3,4%.

Lula usa metáfora da mulher grávida

Lula comentou no discurso apenas números sobre o crescimento no volume de barris de petróleo produzidos no país e dos programas na área educacional. Ele afirmou que a economia está se recuperando, ¿mas não com a rapidez que queremos¿. Para explicar, usou uma metáfora:

¿ Quando minha mulher ficou grávida, eu não tinha paciência para esperar nove meses para o meu filho nascer, se pudesse ele nasceria no dia em que ela falou que estava grávida, mas aí não seria um nascimento, seria um aborto e eu perderia minha criança ¿ disse, sob risos da platéia.

Lula afirmou que o Brasil não terá mais apagão por falhas do governo. Hoje há investimentos em projetos de longo prazo para não prejudicar o fornecimento de energia, disse:

¿ Pode ficar certo: não haverá mais apagão neste país! Poderá haver a queda de uma rede. Acidente pode acontecer, mas apagão por incompetência governamental, não! Tudo isso é investimento de longo prazo. A gente não pensa uma hidrelétrica hoje e constrói hoje. A gente pensa hoje para dar resultado daqui a dez anos. Por isso que digo sempre que a mediocridade de um político é não pensar na nação, mas na próxima eleição.

Lula aproveitou para alfinetar pessoas ¿azedas e preconceituosas¿ com as quais se deparou em pouco mais de 30 meses de governo. Não citou nomes, mas mandou recado ao tratar da geração de emprego, por exemplo:

¿ Nós estamos ensinando a algumas pessoas, cheias de preconceito, que somos capazes de resolver um dos graves problemas deste país ¿ disse ele, referindo- se ao fato de o país ter gerado, em seu mandato, uma média mensal de 104 mil empregos com carteira assinada. Entre 1992 e 2002, disse Lula, a média era de pouco mais de oito mil.

Ao lembrar que cerca de 660 funcionários da Petrobras haviam sido demitidos por fazer greve e readmitidos em seguida, o presidente disse que pretende readmitir nas estatais outras pessoas que teriam sido perseguidas:

¿ É impensável alguém ser perseguido porque fez greve para reivindicar melhores condições de salário.

O presidente, por duas vezes, lembrou que tem ainda alguns meses de governo. E que, ao fim dele, gostaria de comparar sua administração às dos presidentes anteriores.