Título: 'Os fundamentos da economia são muito sólidos', reage presidente do BC
Autor: Eliane Oliveira e Enio Vieira
Fonte: O Globo, 29/07/2005, O País, p. 4

Declarações de Meirelles refletem o pensamento da equipe econômica

BRASÍLIA. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que sempre se recusou a falar com a imprensa em portaria de ministério ou do BC, fez questão de parar ontem, no momento em que chegava ao Ministério da Fazenda para a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), para dizer aos jornalistas que a economia brasileira tem hoje indicadores sólidos. A posição de Meirelles reflete o pensamento da área econômica que, se pudesse, evitaria que qualquer integrante do governo fizesse qualquer vinculação da crise política à economia, como fez ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

¿ A economia brasileira se encontra hoje com fundamentos muito sólidos, todos os índices, todos os indicadores. Esse é o resultado da política ancorada na realidade brasileira e que visa a construir a rota do crescimento sustentável. Portanto, a economia do Brasil vai continuar na rota de cada vez mais aumentar o crescimento potencial ¿ afirmou o presidente do BC, que preferiu não responder se o governo estuda medidas para blindar a economia contra os efeitos da crise política.

Depois das turbulências no mercado ocorridas sexta-feira passada e no início desta semana, a equipe econômica passou a respirar aliviada com as boas notícias dos últimos três dias: bolsa subindo e dólar caindo. Cautelosamente, o Ministério da Fazenda decidiu interferir o mínimo possível no mercado. O Tesouro Nacional anunciou a suspensão temporária da compra de dólares e diminuiu a oferta de títulos. Tudo para não causar temor.

O ministro Antonio Palocci, segundo fontes da área econômica, tem recomendado a todos os atores econômicos do governo que evitem falar sobre a crise. E também sobre os eventuais reflexos da crise na economia. Mesmo que em defesa do governo, aqueles que apelarem para o bom senso e a necessidade de manutenção dos fundamentos econômicos podem levar o mercado a fazer interpretações desfavoráveis, alertam essas fontes.

Um assessor do Palácio do Planalto afirmou que a frase do presidente de ontem, dita de improviso, fazia parte de um contexto mais amplo, previsto no discurso proferido no Rio Grande do Sul. A intenção de Lula, argumentou, era outra. Fato é que o mercado não se abalou com a declaração do presidente de que a economia brasileira é vulnerável. Mas preocupou e muito a equipe econômica.

¿ Não acredito em um estrago por causa da frase do presidente da República, embora à primeira vista possa parecer uma impropriedade. Acho que ele quis dizer que a crise deve ser resolvida logo ¿ disse o economista Roberto Padovani, da consultoria Tendências.

A REPERCUSSÃO NO MERCADO na página 8