Título: EM WALL STREET, TEMOR DE QUE LULA NÃO SE REELEJA
Autor: Luciana Rodrigues e Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 29/07/2005, O País, p. 8

Investidores que em 2002 entraram em pânico diante da possível vitória do PT agora querem estabilidade

NOVA YORK. ¿Em 2002, o mercado financeiro ficou em pânico com a possibilidade da eleição do Lula e agora, em 2005, está dizendo: meu Deus, Lula pode não ser reeleito...¿. A frase de Michael Hood, economista e estrategista de mercado para a América Latina do Barclays Capital, foi dita com um leve tom de brincadeira, mas dá a medida do otimismo de Wall Street com a economia brasileira. Num café da manhã ontem em Nova York, promovido pela Câmara de Comércio Brasileira-Americana, cinco analistas de mercado foram unânimes em dizer que a crise política já foi assimilada e que o seu preço é a volatilidade de câmbio e na Bolsa de Valores, mas nada que exija a reclassificação do risco-Brasil.

¿Esse dinheiro do mensalão foi muito mal gasto¿

Todos consideraram que são pequenas as chances de um impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou de a austeridade fiscal ser trocada por uma política populista para evitar uma derrota muito grande do PT nas eleições.

¿ Diria que existem entre 15% e 20% de chances de Lula passar por um impeachment e só isso pode abalar os mercados ¿ disse Geoffrey Dennis, diretor-gerente da corretora Smith Barney.

¿ Depois de uma tormenta dessas, os candidatos de centro devem ter mais chances na próxima eleição ¿ disse o diretor de América Latina do Banco Santander Central Hispano, Ernest Brown.

A única voz discordante é a do professor Albert Fishlow, diretor do Centro de Estudos Brasileiros da Columbia University, um estranho no ninho de Wall Street. Para ele, a política já está influenciando fortemente a economia e um dos sinais disso é que o governo reduziu a expectativa de crescimento para este ano e avisou que vai aumentar os gastos no segundo semestre..

¿ Não estou pessimista, estou vendo a situação desenvolver-se O problema maior é que, qualquer que seja o novo governo, ainda vai ter o problema de não ter maioria no Congresso. O Brasil precisa de reforma política ¿ disse Fishlow.

Todos concordam que as reformas fiscal e previdenciária decididamente não estão mais na mesa por causa da turbulência política e há os que dizem que isso é uma bomba-relógio, mas ninguém consegue prever um cenário para 2007.

¿ Esse dinheiro do mensalão foi muito mal gasto se olharmos o que o Congresso aprovou ¿ disse o estrategista de mercado do Barclays, prevendo também que o próximo governo será mais forte para lidar com o mercado.

A diretora do Departamento de Risco da Standard&Poor, Lisa Schineller, não está preocupada com a sinalização de aumento de gastos do governo. Diz que não subestima a complexidade política e que está atenta aos rumos do PT sob a nova direção mas ressalta que ninguém esperava a manutenção do superávit fiscal em 5% no segundo semestre.

¿ É natural que o governo libere mais dinheiro do Orçamento. Precisamos ficar atentos para ver se os gastos têm motivação política ou estão seguindo o curso normal ¿ diz Lisa.

Uma crescente cultura de responsabilidade fiscal

Tanto ela quanto o diretor do Santander acham que o Brasil está a caminho de conseguir o investment grade, a recomendação das agências de risco como um bom país para investimentos. Mas a especialista da Standard&Poor em dar esse tipo de classificação aos países acha que o Brasil ainda tem um caminho a percorrer para superar as fragilidades da economia e ganhar a nota máxima, enquanto o diretor do Santander prevê que isso acontecerá em dois ou três anos.

¿ As instituições brasileiras são comparativamente mais fortes que as de outros países na mesma categoria de notas. Você tem uma crescente cultura de responsabilidade fiscal, que você vê sendo protegida ¿ diz Liza.