Título: Analistas vêem economia sólida, mas não imune
Autor: Luciana Rodrigues e Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 29/07/2005, O País, p. 8

Melhora nas contas externas e nos resultados fiscais protege o país, porém mercado teme envolvimento de Lula

Blindada sim, mas não imune. Os analistas afirmam que a economia brasileira está mais robusta para enfrentar crises políticas. E discordam do presidente da República, que afirmou que a economia ainda estaria ¿muito vulnerável¿. Mas alertam que o Brasil nem qualquer outro país se manteria incólume aos reflexos de uma crise de proporções alarmantes ¿ que, por exemplo, envolvesse o presidente Lula diretamente nas denúncias ¿ nas decisões de empresários e investidores. Este não é o cenário atual, dizem os analistas, mas sua mera possibilidade já fez tremer o mercado financeiro esta semana, num nervosismo alimentado, sobretudo, por temores sobre a próxima eleição presidencial.

A proteger a economia, os analistas citam os bons números das contas externas e dos resultados fiscais. Em 1999, o país tinha um déficit nas suas trocas externas de 4,72% do Produto Interno Bruto (PIB). Hoje, tem um saldo positivo de 1,5%. A dívida pública caiu de 57% do PIB em 2003 para 52%.

¿ Mas a tranqüilidade dos mercados não é garantida apenas pelo fato de a economia estar intrinsicamente mais sólida ¿ afirma Joaquim Elói Cirne de Toledo, professor da USP.

Temor de José Alencar ou Garotinho na Presidência

Na sua opinião, o mercado tem ficado tranqüilo porque a atual crise, que enfraquece o PT, traz a expectativa de um governo mais conservador. Por um lado, empurra o presidente Lula na busca de novas alianças. E aumenta as chances de uma vitória da oposição (ou seja, PSDB ou PFL) nas próximas eleições. Para Toledo, o nervosismo dos mercados na segunda-feira passada, quando o dólar subiu 2,67%, foi provocado pela possibilidade, ainda que remota, de o vice-presidente José Alencar assumir o mandato.

Cláudio Frischtak, ex-Banco Mundial, também vê o risco, ainda que pequeno, de instabilidade econômica. Ele acredita que o maior temor do mercado é de que Lula não concorra à reeleição, abrindo espaço para um candidato populista como o ex-governador Anthony Garotinho. Por isso, completa, um cenário pouco provável, de envolvimento direto de Lula nas denúncias, afetaria a economia.

Agenda de reformas do governo está parada

Ao largo da recente volatilidade no mercado, a economia vai bem. O economista Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central e hoje na FGV, destaca que a indústria paulista cresceu 1,7% em junho.

¿ Não houve contaminação. O risco-Brasil continua no mesmo patamar dos 400 pontos. Em 2002, o risco chegou a mais de 1.500. É claro que houve uma reação em câmbio, juros e bolsa. Mas isso é normal.

O que preocupa Langoni, no entanto, é um possível adiamento de planos de investimento e de uma travada na agenda de reformas do governo.

¿ Se esse clima de incerteza se sustentar por mais seis meses, pode combinar com o calendário eleitoral de 2006. Nesse momento, os investidores ficam mais cautelosos e os investimentos serão adiados. Além disso, o Brasil, para crescer, precisa aprovar as reformas tributária e do trabalho e complementar a da Previdência.

Já o economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e professor do Ibmec, acredita que a crise não vá afetar a economia.

¿ Podemos nos comparar à Itália, que passou por crises e corrupções, mas sua economia continua dinâmica.