Título: Articulação de Jobim, do STF, divide opiniões
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 29/07/2005, O País, p. 12

Dirigentes do PFL e do PPS criticam atitude do presidente do Supremo, mas governo e peemedebistas elogiam articulação

BRASÍLIA. A ação política do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, de pedir a políticos aliados do governo e da oposição para que se restabeleça o diálogo com o objetivo de evitar a ingovernabilidade do país, dividiu opiniões. Dirigentes do PFL e do PPS criticaram, alegando que Jobim deveria procurar preservar seu papel institucional. Líderes do PMDB e do governo, porém, elogiaram a preocupação do presidente do STF de evitar a radicalização política.

¿ Jobim cometeu um erro. Ele é presidente do Supremo e não deve se envolver em questões políticas. O Judiciário e o Legislativo são poderes independentes e o envolvimento de um magistrado na política não é bom para a democracia ¿ disse o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ).

O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), considera que Jobim deveria se resguardar na medida que caberá ao presidente do Supremo comandar um processo de impeachment caso ele seja instaurado no Senado:

¿ Não estamos torcendo pelo impeachment, mas é uma possibilidade. Nesse caso, o presidente do Supremo vai presidir a sessão que decidirá sobre o impeachment. Ele não pode se dar ao luxo de ficar se comportando como analista político.

Este entendimento é contestado pelo líder do governo na Câmara. O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) diz que o presidente do Supremo faz uma avaliação sábia do processo político ao identificar que parcela da oposição tem objetivos que não consideram os interesses do país.

¿ A avaliação de Jobim é sábia. A disputa política tem sido dura e algumas vezes desleal. A oposição tem de exercer seu papel de investigação, mas também é importante que dialogue. É possível, sem prejuízo das investigações e das punições, a construção de um entendimento nacional em torno de uma agenda do interesse do país ¿ disse Chinaglia.

Wagner diz que não vê risco de instabilidade política

O ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, após encontrar-se com o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), disse que não vê risco de instabilidade política, mas achou positiva a preocupação de Jobim com a questão institucional.

Esta também é a visão do líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), para quem o nível das agressões políticas e o clima do denuncismo não ajudam a manter um ambiente de tranqüilidade e que seja propício ao crescimento da economia. Suassuna avalia que a advertência de Jobim vale tanto para a oposição quanto para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para o peemedebista, Lula poderia dar uma contribuição ao diálogo controlando seu impulso e as declarações polêmicas.

¿ Estamos desperdiçando muita energia com ataques. É importante, numa hora dessas, que o presidente do STF, com a autoridade que tem, faça um apelo para que todos abaixem o tom e procurem uma saída política para a crise ¿ disse Suassuna.

Para o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), a advertência de Jobim não foi dirigida à oposição, mas sim um puxão de orelhas em Lula. Segundo o tucano, o presidente, com suas declarações, não contribui para reduzir a tensão política.

Virgilio também considera que a grande preocupação das forças políticas hoje deve ser a travessia até janeiro de 2007, quando assumirá o presidente eleito no ano que vem. Virgílio concorda com Jobim quando o presidente do Supremo diz que o Congresso precisa ser depurado, mas discorda quando dá a entender que a oposição quer interromper o mandato do presidente.

Oposição nega estar fabricando crise

A oposição nega que esteja fabricando qualquer crise ou criando uma situação política artificial.

¿ O ministro Jobim não se dirigiu à oposição. Não tem ninguém querendo derrubar o Lula. O puxão de orelhas foi no presidente Lula, que deveria falar para diminuir a tensão e não para aumentá-la ¿ disse Virgílio.