Título: Pacto é a nova palavra de ordem no Planalto
Autor: Cristiane Jungblut/Eliane Oliveira/Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 29/07/2005, O País, p. 13

Governo negocia acordo com parlamentares e empresários para evitar que crise atinja economia e paralise Congresso

BRASÍLIA. Afinado com as declarações do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, sobre a necessidade de se manter a normalidade institucional, o Palácio do Planalto deflagrou uma operação com parlamentares e empresários para evitar que a crise política atinja a economia e paralise o Congresso. Responsável pela operação, o articulador político do governo, ministro Jaques Wagner, disse ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manterá a responsabilidade na economia e não adotará soluções fáceis para contornar a crise, como ¿o chavismo ou abrir os cofres¿.

Presidente terá encontro com empresários

Para costurar o pacto, Wagner já acertou um encontro na próxima semana entre Lula e grandes empresários. Ele disse que o governo quer construir uma agenda de votações e ações para este ano, mas pondera que, apesar da crise, não há risco de instabilidade:

¿ Não vejo risco, mas acho importante a preocupação com institucionalidades. Por isso, a palavra de Jobim é bem-vinda. Alguém com experiência política e com preocupação com a institucionalidade. Mas a preocupação não quer dizer que você tenha uma instabilidade se avizinhando ¿ disse Wagner.

Para ele, até a oposição reconhece que é importante manter uma agenda de votações:

¿ Com a maturidade política do Congresso, as pessoas conseguem separar o que é necessidade de apuração do episódio de corrupção da necessidade de funcionamento normal do país.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), quer propor pontos para uma agenda mínima de discussão no Congresso com o objetivo de atravessar a crise e evitar que a economia sinta seus efeitos:

¿ A economia já foi atingida, o governo está paralisado. O presidente é hoje um pato manco que precisa buscar forças externas para chegar a 31 de dezembro de 2006.

O senador Jefferson Peres (PDT-AM), que propôs um entendimento dos partidos em torno de medidas econômicas, ponderou:

¿ É preciso tomar medidas para consolidar a estabilidade econômica. Ela é precária, não agüenta uma crise política maior. Se a economia for contaminada pela crise, é um desastre. Cabe ao governo tomar uma iniciativa. Se o processo (de diálogo) evoluir, estou pronto para colaborar.

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro (PTB-PE), é preciso mostrar à população que, mesmo com a crise, o país está funcionando. Para isso, um dos caminhos é aprovar uma agenda mínima:

¿ É importante dar à sociedade a percepção de que os três poderes, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, estão funcionando, em que pese o quadro de crise aguda em que estamos imersos. O pior que pode acontecer é essa sensação de paralisia. Não se trata de uma agenda oportunista ou exótica, mas de alguns projetos que já estão em pauta ¿ disse Monteiro, principal articulador do acordo pelo lado empresarial.

O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, elogiou a proposta da agenda mínima.

¿ É importante para que consigamos atingir o binômio crescimento econômico com inflação baixa ¿ disse Levy.