Título: Empresa de Valério depositou R$351 mil para PT
Autor: Bernardo de la Peña/Gerson Camarotti/Demétrio Webe
Fonte: O Globo, 29/07/2005, O País, p. 16

Segundo o partido, dinheiro repassado pelo empresário pagaria parcela do financiamento que ele avalizou

BRASÍLIA. A CPI dos Correios descobriu ontem que a SMP&B, uma das agências do publicitário Marcos Valério, acusado de ser o operador do pagamento de mesada a parlamentares aliados, fez em 14 julho de 2004 uma transferência de sua conta no Banco Rural para a do PT no valor de R$351.508,20. Para integrantes da CPI, o depósito mostra que as relações entre o PT e Valério não ficaram restritas aos dois empréstimos que o partido fez nos bancos Rural e BMG, com o aval do publicitário, e aos repasses de dinheiro a pessoas indicadas pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. A transferência será investigada pela comissão.

A assessoria do PT informou que o valor referia-se ao pagamento de uma das parcelas do empréstimo feito no BMG e que teve Valério como avalista. Segundo o PT, os R$351 mil teriam sido depositados na conta do partido no BMG e seriam referentes à parcela do empréstimo paga pelo publicitário.

Ontem, a lista de parlamentares que receberam diretamente ou por intermédio de assessores dinheiro de contas de Valério aumentou de nove para dez. Com o auxílio de técnicos do Banco Central e do Rural, membros da comissão encontraram transferências para os deputados federais João Magno (PT-MG) e Romeu Queiroz (PTB-MG).

Diferenças nas notas da DNA

Magno recebeu duas transferências eletrônicas de R$25 mil cada no dia 18 de agosto de 2003. Segundo integrantes da CPI, o petista recebeu mais R$4 mil no dia 19 de setembro do mesmo ano, totalizando R$54 mil. Já Queiroz teria recebido uma outra transferência eletrônica no valor de R$50 mil. Os dois não retornaram ligações para comentar o assunto.

A CPI suspeita que a DNA, outra agência de Valério, que prestou serviços de publicidade ao Banco do Brasil, possa ter superfaturado notas enviadas ao banco. Documentos da comissão registram que em 2003, 2004 e 2005 o BB pagou pela prestação de serviços da Consultoria Mello, Soares & Cia R$1,018 milhão ¿ R$152,460 mil no primeiro ano, R$515,823 mil no segundo e R$350,080 mil neste ano.

Mais depósito para Glênio

Nos três anos, entretanto, os integrantes da CPI só encontraram transferências das contas da DNA para a Mello, Soares & Cia Ltda no valor de R$418.141,78. A empresa, de Curitiba, foi aberta em junho de 1995 e presta serviços de assessoria de imprensa, clipping e eventos ao BB. Segundo a diretora da Mello Soares, Tereza Cristina Silveira Mello, a diferença pode ser referente ao período em que outra agência de publicidade, a Grottera, era responsável por fazer o pagamento dos serviços prestados pela sua empresa. Segundo ela, a Mello Soares faz auditoria de imagem, uma espécie de análise da exposição do BB na mídia, pela qual a agência cobra R$44,5 mil por mês. Tereza afirma que a DNA assumiu o pagamento em agosto de 2003 e que nesse período recebeu cerca de R$1 milhão da agência.

A CPI também encontrou outro depósito do advogado e sócio de Valério num escritório de advocacia, Rogério Tolentino, para o ex-procurador Glênio Guedes, que foi afastado do cargo por envolvimento no escândalo. Em maio, Tolentino depositou R$500 mil para Glênio, que já havia recebido R$902 mil da SMP&B.