Título: UM NOVO GIGANTE DE AÇO
Autor: Erica Ribeiro e Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 29/07/2005, Economia, p. 41

Grupo siderúrgico europeu consolida ativos no país e cria a Arcelor Brasil

AArcelor, segunda maior siderúrgica do mundo em volume de produção (atrás apenas da holandesa Mittal Steel), anunciou a reorganização de seus ativos no Brasil. Segundo a companhia, a mudança envolverá inicialmente as empresas Belgo-Mineira, Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) e Vega do Sul. A Arcelor vai consolidar seus negócios no país por meio da Belgo-Mineira, que terá sua razão social alterada para Arcelor Brasil S.A. A empresa disse ainda que investirá US$4,8 bilhões no Brasil e na Argentina em aquisições e expansão de suas operações.

Após a concentração das operações no país, a Arcelor Brasil será a plataforma preferencial para receber os investimentos do grupo na América do Sul e, possivelmente, na América Latina. Com a operação, a expectativa é que a nova companhia se tornará a maior empresa do setor siderúrgico da região, com capacidade anual de produção de 11 milhões de toneladas e cerca de 14.500 empregados. A Arcelor no mundo obteve, em 2004, receita de 30 bilhões de euros e seu lucro líquido somou 2,314 bilhões de euros. No primeiro semestre deste ano, o lucro líquido da gigante européia já soma 1,937 bilhão de euros.

No Brasil, segundo dados da publicação ¿Valor 1000¿, a CSN era a maior siderúrgica brasileira no conceito de vendas líquidas, que, em 2004, foram de R$6,170 bilhões. O segundo grupo é a Gerdau, com R$4,870 bilhões. Já o faturamento estimado da nova Arcelor no país é de R$12 bilhões por ano, com base nos resultados de 2004 das três siderúrgicas.

Redução de custos de R$165 milhões

Os analistas do setor dizem que a criação da Arcelor Brasil vai beneficiar as empresas participantes, que terão mais capacidade negociar a venda de seus produtos para o mercado externo. Para Cristiane Viana, da corretora Ágora Senior, a formação da Arcelor Brasil é positiva:

¿ A Arcelor Brasil será importante porque a nova holding dará mais representatividade ao setor no país. Isso vai significar também redução de custos de R$165 milhões por ano, a partir de 2006. Isso revigora a capacidade das empresas de negociar seus produtos fora do país, aumentando a participação da Belgo, da CST e da Vega do Sul nas exportações. A Arcelor Brasil será também o veículo da Arcelor nas negociações nas Américas do Sul, Norte e Central ¿ afirmou Cristiane.

Segundo a analista, a nova empresa não ameaça as outras siderúrgicas brasileiras, que também têm competitividade elevada.

Para o analista Edmo Chagas, do Banco UBS, o negócio é bom para a Arcelor, que terá maiores ganhos de rentabilidade em suas atividades e maior capacidade de investimento.

¿- A criação da Arcelor Brasil não se caracteriza como uma compra de ativos. A Arcelor já tinha participação nas empresa. Isso não muda em nada o mercado brasileiro. A união das empresas também não vai representar qualquer concentração de mercado, já que cada uma vai continuar fabricando seus produtos, como sempre fizeram ¿- disse Chagas.

CST será subsidiária do novo grupo

Todas as ações preferenciais da Belgo serão transformadas em ordinárias (com direito a voto). A empresa vai incorporar então as sociedades controladas pela Arcelor que detêm participações na CST e na Vega do Sul. Além disso, as ações da CST serão incorporadas pela Belgo, transformando a Siderúrgica de Tubarão em subsidiária integral. A relação de troca de papéis tomou por base o valor econômico-financeiro das empresas definido pelos bancos UBS e Deutsche Bank. Cada 9,32 ações preferenciais ou ordinárias da CST serão trocadas por uma ação ordinária da Belgo. Ontem a CST divulgou o balanço do segundo trimestre, com lucro de R$483 milhões, queda de 18% contra o ano anterior.

Os donos de ações preferenciais da CST receberão apenas ações ordinárias da Belgo. Se quiserem, poderão receber sua parte em dinheiro, o que aumentaria a fatia da Arcelor na empresa combinada.

Todos os acionistas da Belgo-Mineira terão direitos iguais, inclusive o de voto. Os acionistas terão direito de venda conjunta por preço equivalente a 100% do preço de alienação de controle. Essas práticas seguem as regras do chamado Novo Mercado, ambiente da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) que exige mais transparência. A Arcelor também detém 27,68% do capital total da produtora de aços especiais Acesita, que poderá ser incluída no novo grupo no futuro.

(*) Com agências internacionais