Título: TESOURO VAI REDUZIR DÍVIDA EM US$2,8 BI EM DOIS ANOS
Autor: Martha Beck
Fonte: O Globo, 29/07/2005, Economia, p. 44

Objetivo do governo é melhorar perfil do endividamento

BRASÍLIA. Num momento em que o mercado financeiro começa a refletir a crise política, o Tesouro Nacional anunciou ontem um plano para diminuir a vulnerabilidade do Brasil no exterior. Nos próximos dois anos, o governo vai reduzir em US$2,8 bilhões o estoque da dívida externa. O Tesouro deixará de rolar 100% do principal da dívida, restringindo-se a rolar cerca de 80%. Na prática, isso significa que o governo pagará 20% dos títulos que vencem em 2006 e 2007.

¿ A vantagem é que teremos uma melhora na composição da dívida. Isso também nos dá a possibilidade de melhorar a qualidade dos papéis ¿ disse o secretário do Tesouro, Joaquim Levy.

O principal da dívida externa, acumulado entre 2006 e 2007, chega a US$11,8 bilhões. Desse total, só serão emitidos US$9 bilhões. Já os juros desse endividamento, que continuarão a ser pagos semestralmente, somam US$14 bilhões. O estoque da dívida externa está hoje em US$70 bilhões.

Parcela indexada ao dólar recuou de 37% para 4,1%

O novo plano de financiamento externo é o segundo passo do governo na administração da dívida pública. Com isso, pretende mostrar aos investidores uma maior solidez da economia brasileira. O primeiro passo foi a redução da parcela da dívida interna indexada ao dólar em 2003 e 2004. Em dezembro de 2002, essa parcela era de 37% do estoque, mas atualmente está em 4,1%.

¿ Há dois anos, cerca de 40% da dívida pública estavam atrelados ao dólar. Mas hoje esse efeito praticamente desapareceu ¿ afirmou Levy.

Para fazer os resgates, o governo poderá utilizar parte das reservas do país, hoje de US$54,6 bilhões, ou comprar dólares no mercado de câmbio. Apesar de o Tesouro não estar atuando nesse mercado por causa da atual volatilidade, Levy disse que pode voltar a comprar a moeda americana no segundo semestre.

¿ É admissível, no segundo semestre, haver uma antecipação do programa de captações ¿ disse o secretário.

Levy falou em antecipação porque o governo já completou o cronograma de comprar US$6 bilhões para honrar a dívida externa em 2005. Em 2004, o governo havia captado antecipadamente US$1,5 bilhão. Já este ano foram feitas cinco operações, que somaram US$4,5 bilhões.

Levy também disse que a troca de US$4,4 bilhões em C-Bonds, que já foi um dos principais títulos da dívida externa, pelos chamados Amortization Bonds (A-Bonds), foi excelente. A idéia era alongar a dívida:

¿ A resposta do mercado foi muito positiva. Os investidores mostraram que querem títulos da dívida brasileira. A orientação geral da economia foi um elemento importante para o sucesso da operação.