Título: ATA MOSTRA BC OTIMISTA COM INFLAÇÃO
Autor: Enio Vieira e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 29/07/2005, Economia, p. 47

Para analistas, relatório da reunião do Copom indica que juros cairão logo

BRASÍLIA e RIO. O Banco Central (BC) está mais otimista com a trajetória recente da inflação, principalmente graças à valorização do real frente ao dólar e à previsão de reajustes menores em tarifas públicas, como as de telefonia e de energia. Esses pontos foram destacados na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada semana passada, quando a taxa de juros básicos (Selic) foi mantida em 19,75% ao ano. Apesar de a ata repetir a frase usada no mês passado, de que os juros serão mantidos neste patamar por ¿um período suficientemente longo de tempo¿, a maioria dos economistas acredita que o BC vai reduzir a Selic em agosto ou setembro.

O professor da PUC-Rio Luís Roberto Cunha, especialista em inflação, avalia que a ata teve um tom bem mais favorável do que o mesmo relatório de junho. Ele lembra que, além de citar os baixos índices de inflação dos últimos meses, o BC destaca o bom momento da conjuntura internacional. ¿Dessa forma, vai-se configurando, de maneira mais definida, um cenário benigno para a evolução da inflação¿, diz a ata.

¿ O texto prepara o terreno para a queda dos juros ¿ afirma Cunha, que prevê um corte da Selic em agosto ou setembro.

Ele acrescenta que a inflação medida pelos Índices Gerais de Preços (IGPs) está muito baixa e pode fechar 2005 abaixo de 4%, o que reduzirá a pressão sobre os preços da economia em 2006, já que esses índices são usados na correção de tarifas públicas. Na ata, a projeção de aumento do preço da tarifa de telefonia fixa foi revista para baixo, de 8,5% para 6,5%, enquanto a de energia elétrica caiu de 10,8% para 8,2%.

Marcel Pereira, economista-chefe da RC Consultores, acredita que a ata deu um sinal positivo para a trajetória dos juros e espera um corte de 0,25 ponto percentual na Selic em agosto. Ele não prevê, porém, uma redução maior, de meio ponto percentual. Pereira lembra que, depois do resultado do IGP-M divulgado ontem (deflação de 0,34% em julho), aumenta a probabilidade de um corte de juros.

Piora na crise política dificultaria corte de juros

Na ata, o Copom reafirma que seu objetivo é garantir o cumprimento das metas de inflação, que são de 5,1% em 2005 e 4,6% em 2006 para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Até junho, o IPCA acumula alta de 3,16% este ano. Graças à valorização do real ¿ e também aos elevados juros dos últimos meses ¿ a expectativa do mercado para o IPCA deste ano vem recuando semana após semana. Na última pesquisa do BC, realizada semana passada, o mercado já previa um IPCA de 5,55% para 2005, ou seja, apenas ligeiramente acima da meta.

O próprio BC reduziu sua previsão de inflação para 2005, que, segundo a ata, estaria abaixo da estimativa de 5,8% apresentada em junho passado. ¿Essa melhora deveu-se fundamentalmente à surpresa positiva na inflação de junho e à apreciação da taxa de câmbio¿, apontou a ata.

Os analistas alertam, porém, que a reunião do Copom ocorreu na quarta-feira da semana passada, ou seja, antes das turbulências que sacudiram o mercado financeiro esta semana, devido ao agravamento da crise política. Um desdobramento das denúncias de corrupção sobre o governo que atinja o presidente Lula ou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, dizem eles, pode levar a uma piora nos mercados financeiros e a uma alta do dólar, o que impediria um corte de juros pelo BC.