Título: UM HISTÓRICO DE CONFLITOS QUE REMONTA AO SÉCULO XVII
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 29/07/2005, O Mundo, p. 54

A origem do conflito na Irlanda do Norte (Ulster) remonta ao século XVII, quando a Inglaterra, para consolidar seu domínio sobre os católicos irlandeses, promoveu a emigração de ingleses e escoceses protestantes para a região. A parte sul da ilha permaneceu com maioria católica, mas o norte chegou ao século XX com dois terços da população protestante.

Em 1905 foi fundado o movimento político Sinn Fein, para lutar pela independência da Irlanda. Em 1919, foi criado o Exército Republicano Irlandês (IRA), ligado ao Sinn Fein, para conduzir a insurreição antibritânica. Em 1920, a ilha foi dividida em Irlanda e Irlanda do Norte e, em 1921, quando o sul católico declarou o Estado Livre Irlandês, parte do Sinn Fein e do IRA não aceitou a divisão, iniciando uma guerra civil de dois anos que terminou com a derrota da dissidência.

Em 1937, o Estado Livre proclamou a independência, formando a República da Irlanda, enquanto o norte permaneceu ligado ao Reino Unido. Em 1968, os católicos norte-irlandeses lançaram uma campanha pelos direitos civis, causando reação dos protestantes, que queriam manter sua hegemonia. Com o fracasso do IRA em proteger os católicos, em 1969 uma dissidência formou o IRA Provisório, uma ala militar clandestina do movimento político que logo ficou conhecida só como IRA. Foi o início de uma violenta campanha terrorista direcionada contra o domínio britânico na Irlanda do Norte e pela unificação da Irlanda, resultando na morte de três mil pessoas nas últimas três décadas e meia.

Londres respondeu suspendendo a autonomia do Ulster em 1972 e enviando o Exército. Um dos marcos da luta foi o massacre do Domingo Sangrento, em 1972, quando soldados britânicos atiraram contra uma marcha pacífica de católicos por direitos civis, matando 13 pessoas em Londonderry. Em 1979, o IRA intensificou os atentados, assassinando lorde Mountbatten, primo da rainha Elizabeth II, e em 1984, tentou matar a primeira-ministra Margaret Thatcher em Brighton.

Em 1990 e 1994, o IRA anunciou dois breves cessar-fogos e tiveram início negociações entre o Sinn Fein e Londres após o último. Nos anos 90, duas novas dissidências internas mais radicais surgem: o IRA Autêntico e o IRA da Continuidade. Em 1996, o IRA volta a atacar em Londres, declarando outro cessar-fogo em 1997. No ano seguinte, os Acordos da Sexta-Feira Santa devolvem a autonomia à Irlanda do Norte. Os unionistas ganham as eleições. Um atentado do IRA Autêntico matou 29 pessoas em Omagh. Em 2000, a autonomia foi suspensa e depois, restaurada. Nos últimos anos, a questão principal tem sido o desarmamento do IRA e suas facções, exigido por Londres e pelos unionistas.