Título: Patrimônio investigado
Autor: Alan Gripp e Carla Rocha
Fonte: O Globo, 26/10/2004, Rio, p. 12

O Ministério Público estadual já abriu um inquérito-mãe para investigar a variação patrimonial declarada de 113 deputados e 42 vereadores do Rio nos últimos anos, a partir da série ¿Bastidores do Poder¿ que começou a ser publicada pelo GLOBO no dia 20 de junho deste ano. Entre os mais ricos da Assembléia Legislativa do Rio (Alerj), que serão investigados por fazer parte do chamado ¿clube do milhão¿, está o deputado federal André Luiz (PMDB-RJ), acusado por Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, empresário do setor lotérico e apontado como bicheiro, de ter tentado lhe extorquir R$ 4 milhões durante a CPI da Loterj. Também serão investigados outros dois caciques peemedebistas que têm patrimônio superior a R$ 1 milhão: Jorge Picciani, presidente da Casa, e Paulo Melo, líder do partido, também citados na denúncia de extorsão.

Receita também abriu investigação

A investigação ficará a cargo do promotor Rogério Pacheco Alves, da 7 Promotoria de Defesa da Cidadania. A pedido do MP, O GLOBO já entregou cópias de todos os documentos usados na reportagem (principalmente as declarações de renda entregues ao Tribunal Regional Eleitoral) e também as planilhas da variação patrimonial declarada dos parlamentares.

O promotor Rogério Pacheco Alves disse que apenas aguarda resposta da Alerj sobre o total de deputados que exerceram a legislatura no período para desmembrar a investigação:

¿ É totalmente contraproducente que informações de tal complexidade sejam apuradas num único inquérito. Nós teremos um inquérito para cada um dos investigados.

Será a primeira vez no país que toda uma casa legislativa é investigada. O levantamento do jornal mostrou que 27 deputados do Rio aumentaram em mais de 100% seu patrimônio, de 1996 a 2001, e que 14 vereadores repetiram a façanha, entre 1998 e 2003. A análise mostrou que tanto deputados quanto vereadores são tão bons de finanças quanto de voto porque bateram de longe a rentabilidade dos melhores investimentos no período. A análise das declarações de renda entregues pelos próprios parlamentares ao TRE mostrou ainda que 80% de todos os deputados estaduais tiveram algum aumento nos bens de 96 a 2001.

A Receita Federal também está investigando os parlamentares citados na reportagem. André Luiz, quando se elegeu em 1996, declarou ter um patrimônio de R$ 146 mil. Seis anos depois, sua declaração de renda registrava R$ 1,2 milhão, um aumento de 735%. As declarações analisadas mostraram que os deputados Jorge Picciani e Paulo Melo, em 2001, tinham patrimônio de, respectivamente, R$ 2 milhões e R$ 1,2 milhão.

A análise da variação patrimonial dos deputados mostra ainda que Alessandro Calazans (PV), outro envolvido na denúncia de extorsão feita por Carlinhos Cachoeira, passou de um carro e dois telefones em 1997 para um patrimônio que, em 2001, já reunia dois automóveis, um Golf e uma Traffic, além de R$ 100 mil em contas bancárias. Comparando os dois anos, o crescimento é de cerca de 1.300%. Calazans é advogado e corretor de imóveis, mas não declara ter outro rendimento além do salário da Alerj.