Título: Alencar e Palocci, a bancada do silêncio na crise
Autor: Lydia Medeiros/ Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 31/07/2005, O País, p. 15

Preocupação com a economia mantém dois importantes personagens do governo à margem do noticiário

BRASÍLIA. Dois importantes personagens da República acompanham com a distância dos precavidos a crise política que assola o país: o vice-presidente José Alencar e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O primeiro vem do mundo empresarial e tem a missão constitucional de assumir o lugar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em caso de um eventual impeachment, hoje considerado improvável. O segundo, petista, é visto como garantia para a estabilidade econômica.

Políticos de vários matizes têm procurado o vice-presidente para trocar idéias e conversar sobre o desenrolar dos acontecimentos. Nessas 11 semanas, ele só não teria discutido a crise com o presidente Lula. Por esta razão, Alencar está preocupado com o estado de ânimo do presidente. Também anda desapontado porque o governo não conseguiu conduzir as bandeiras que o levaram a aceitar o convite para o cargo: a probidade administrativa e uma nova política econômica, com juros mais baixos.

¿Gabinete econômico¿ para estudar desenvolvimento

Alencar sempre se considerou um avalista do governo diante do mundo empresarial e jamais conviveu bem com o fato de ser excluído das grandes decisões. Nos últimos dias, o vice cancelou viagens ao exterior e evitou entrevistas. Há rumores no Congresso de que dedica parte de seu tempo à montagem de um ¿gabinete econômico¿ para estudar saídas para o desenvolvimento. E, claro, mudar a política de juros altos, da qual é crítico contumaz, se oportunidade tiver. Na prática, o embrião de um futuro ministério na hipótese de um impeachment.

No mercado financeiro, a idéia de uma guinada provoca calafrios. Afinal, foi a decisão de manter a receita econômica da administração tucana que sustentou o governo Lula no momento inicial, afastando fantasmas populistas.

A continuidade foi encarnada até aqui pelo ministro Palocci. Habilidoso, driblou pressões internas, agradou a banqueiros, empresários e políticos, inclusive da oposição. Até que veio a crise e seus primeiros reflexos claros na economia, provocados pela incerteza de seu desfecho. Hoje, dizem seus companheiros petistas no Congresso, Palocci faz de conta que nem petista é.

Na segunda-feira passada, um empresário jantava no restaurante Piantella e dirigiu-se ao senador Jorge Bornhausen (PFL-SC).

¿ Não gostei do editorial do Financial Times (o jornal inglês, uma das bíblias do liberalismo econômico, apontava a falta de rumos do governo Lula e as conseqüências econômicas). Perdi uma fortuna hoje! Definam logo esse jogo, senador!