Título: Denúncia antecipa votação de relatório da CPI
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 26/10/2004, Rio, p. 14

Ainda atordoados pelas denúncias de que o deputado federal André Luiz (PMDB) tentou negociar a retirada de Carlinhos Cachoeira, empresário do setor lotérico acusado de ser bicheiro, do rol de indiciados da CPI da Loterj, os deputados estaduais se reúnem hoje em uma sessão extraordinária para votar o relatório final da comissão. Ontem, o documento, que pede a prisão de Cachoeira, foi tratado como uma prova de que a extorsão não contou com a participação dos deputados estaduais citados por André Luiz nas gravações divulgadas pela revista ¿Veja¿.

As denúncias anteciparam a votação do relatório, que propõe que Cachoeira e Waldomiro Diniz, ex-presidente da Loterj, sejam denunciados por 12 crimes. Se aprovado, o documento será enviado ao Ministério Público. A investigação, no entanto, não conseguiu comprovar o suposto esquema de desvio de dinheiro para campanhas eleitorais. A bancada do PT se reunirá antes da votação e pode até não comparecer ao plenário se houver chance de o quórum mínimo de 36 deputados não ser atingido. Parte da oposição é contrária à votação.

¿ Votar agora pode dar a impressão de que a Casa quer acabar logo com o assunto ¿ opinou Alessandro Molon (PT).

Por ora, a Alerj não abrirá nenhuma investigação sobre o caso. Por considerar que até o momento só existem indícios contra André Luiz, que exerceu dois mandatos como deputado estadual, o presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB), enviou ontem ofícios à Câmara dos Deputados e ao Ministério Público federal pedindo a abertura de investigações. A bancada do PT também fez a solicitação.

Ao comentar as denúncias, o presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB), chamou o colega de partido de bandido.

¿ O relatório da CPI é o mais duro e rigoroso com os bandidos. A esses sim interessa interferir para a sua não votação. Não conseguirão. Se alguém tentou vender alguma facilidade, entendo que é bandido com bandido.

Citado pela ¿Veja¿ como hóspede de André Luiz no momento em que ocorria a suposta negociação, o presidente da CPI, Alessandro Calazans (PV), confirmou que esteve duas vezes na casa do deputado, segundo ele, para participar de churrascos. Mas negou que tenha conversado com algum representante de Cachoeira. Durante entrevista coletiva em que se defendeu das acusações, Calazans, muito nervoso, disse que o relatório final é a prova de que a CPI que comandou foi séria:

¿ Era um vôo solo do André Luiz ¿ disse ele, acrescentando que estuda se vai processar o deputado federal. ¿ Quem seria o deputado louco que faria alguma emenda tirando o nome de Cachoeira?

Já o deputado Paulo Melo, líder do PMDB, citado na reportagem como integrante do grupo de André Luiz e freqüentador de sua casa, disse ser desafeto do ex-colega de Alerj:

¿ Meu grau de amizade é zero, confiabilidade zero. A única hipótese de me encontrarem na casa dele é a mesma de me encontrar andando nu na Avenida Rio Branco.

O presidente da Alerj negou que tenha dado a André Luiz informações sobre o suposto vazamento da denúncia de extorsão, porque, segundo ele, sequer tinha conhecimento disso. Nas gravações, André Luiz diz que soube através de Picciani, que classifica como irmão:

¿ Tenho três irmãos e todos têm o sobrenome Picciani.

Apesar de ter sua influência minimizada, André Luiz sempre teve prestígio na Alerj. Durante dois mandatos, participou de oito CPIs, sendo quatro delas como relator. Duas destas comissões foram suspensas por suspeitas de irregularidades. Em 2002, foi eleito presidente da Comissão de Orçamento, a de maior prestígio juntamente com a Comissão de Constituição e Justiça.