Título: TARIFAS 780% MAIS CARAS DE 1994 ATÉ HOJE
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 31/07/2005, Economia, p. 33

Em 2004, foi o principal impacto para alta do IPC-M

Os consumidores viram na conta telefônica o reflexo da hiperinflação anterior a 1994, das crises cambiais de 1999 e 2002 e do avanço tecnológico, que tornou o aparelho a porta de entrada das mais novas ofertas de serviços, principalmente da internet. Enquanto a inflação média não chegou a 200% durante a Era do Real, os reajustes da telefonia alcançaram 780% no cálculo da Fundação Getulio Vargas (de setembro de 1994 até julho de 2005) e 624% (julho de 1994 a junho de 2005) na medição do IBGE.

Eulina Nunes, técnica do instituto, lembra que antes do plano de estabilização as tarifas telefônicas eram mantidas congeladas para não inflar ainda mais os índice de preços. Com a privatização vindo, o governo promoveu o tarifaço para tornar mais atraente as companhias do Sistema Telebrás. Olhando os aumentos ano a ano, depara-se com os maiores reajustes exatamente antes de 1998, ano da privatização. Em 1996, a alta foi de 69,19%, contra 9,56% da inflação média. Em 1997, o reajuste de 89,64% se distanciou ainda mais da inflação de 5,22%.

¿ A assinatura básica chegou a custar centavos ¿ diz Eulina.

Indexação trouxe para as contas as crises cambiais

Resolvida a defasagem nas tarifas, as contas telefônicas ficaram comportadas em 1998 e 1999. Mas o fim do controle do câmbio em 1999 trouxe de volta os reajustes acima da inflação. Na privatização, as companhias garantiram a correção dos contratos residenciais pelo Índice Geral de Preços (IGP-DI), que mede a inflação tanto no varejo quanto no atacado. Como o preço de vários itens no cálculo do atacado é em dólar, a valorização da moeda americana de 49% em 1999 atingiu em cheio a conta de telefone. O reajuste no ano seguinte foi de 12,90%. Em 2003, o reflexo de nova crise cambial: alta de 18,69% nas tarifas depois da apreciação de 53% do dólar do ano anterior.

¿ É um dos preços administrados corrigidos por contrato ¿ afirma Eulina.

No IBGE, o aumento é o maior entre os itens acompanhados pelo instituto. Na FGV, os reajustes acumulados também são disparados os maiores. O segundo da lista, as altas no gás de bujão, alcançam 592% no mesmo período. A energia elétrica vem em terceiro, com alta de 370%.

¿ No ano passado, a telefonia foi o principal impacto para a alta do IPC-M (Índice de Preços ao Consumidor do Mercado) de 6,20%. Respondeu sozinho por 8% da inflação anual ¿ disse André Furtado Braz, economista da FGV. (CA)

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