Título: MERCADO DE PRODUTOS EXÓTICOS FATURA ALTO NO PAÍS
Autor: Eliane Oliveira e Flávia Barbosa
Fonte: O Globo, 31/07/2005, Economia, p. 34

De insetos a pele de peixe, produtores vendem para clientes ricos, principalmente árabes, e grifes européias

BRASÍLIA. Conhecida internacionalmente, a biodiversidade brasileira está ajudando empresários de todas as regiões a descobrirem nichos de mercado tanto aqui como lá fora. A fauna do Brasil desperta a cobiça de ricos compradores, como árabes e europeus e, graças a ela, estão surgindo no país indústrias, pequenos e médios produtores e comércios não-tradicionais que chamam a atenção pelo exotismo. Vale tudo nessa empreitada: desde a produção de moscas estéreis até a confecção de artigos como bolsas, sapatos e mantas de peles de animais como jacaré, serpente, peixe e avestruz. Até pé de peru virou matéria-prima para a fabricação de pulseiras de relógio.

A exploração desse tipo de negócio é autorizada pelo Ibama, que tem uma lista de produtores cadastrados. No Distrito Industrial de Juazeiro (BA) está sendo instalada a primeira biofábrica brasileira, que já consumiu R$15,6 milhões em investimentos. Será a maior indústria do gênero da América do Sul e pretende produzir, já em março de 2006, para consumo doméstico e exportação, 200 milhões de moscas estéreis por semana. Os insetos são usados no combate a pragas em plantações de frutas. Espanha, Israel e África do Sul são mercados-alvo, com importações estimadas, no primeiro ano, de US$1,5 milhão.

¿ A Europa está precisando de moscas ¿ diz Aldo Malavasi, geneticista aposentado da USP que dirige o empreendimento na Bahia.

Já o segmento de peles exóticas vem faturando alto graças à criatividade e à ousadia brasileiras, aliadas à preocupação com o meio ambiente. O selo de ecologicamente correto é uma grife no exterior.

¿ Vendemos o estofado dos iates dos árabes e estamos aumentando nossas exportações para grifes européias exigentes e famosas ¿ conta Cristina Ruffo, a maior criadora de jacarés-de-papo- amarelo da América Latina.

Inovação em técnicas de unir as peles sem costura

Seu plantel, em Maceió (AL), tem oito mil animais, mas ela só abate cem jacarés por mês.

¿ Contribuímos para que o jacaré-de-papo-amarelo deixasse de ser um animal em extinção. Seu couro é exótico e é considerado a melhor pele do mundo ¿ diz ela.

De forma geral, esses produtos são mais caros do que os convencionais. Um centímetro da pele do jacaré custa 14 euros. Como Cristina vende em torno de 4 mil centímetros, seu faturamento chega a 56 mil euros por mês (o equivalente a cerca de R$160 mil).

Envolvido com piscicultura, Fernando Ferreira, de Vigia, no Pará, descobriu que muito tinha a fazer com as 40 toneladas de pele de peixe que jogava fora periodicamente.

¿ De dois anos para cá, estamos desenvolvendo uma tecnologia que só existe no Brasil, a soldagem sem costura. Procuramos capturar peixes com escamas e que vivem em profundidade acima de cem metros, pois sua pele tem consistência melhor, a uma distância de 150 milhas da costa. E nos preocupamos com o meio ambiente, o que é mais um atrativo: não usamos tanino ou alumínio e preferimos corantes naturais ¿ diz Ferreira, que ano passado lançou a marca Couromar.

Ao contrário da maioria, seu alvo é o mercado interno:

¿ Estou pouco ligando se o dólar cai ou sobe. O mercado é excelente.

Ferreira diz que não faltam compradores, apesar dos preços: 1,60 metro da manta (resultado da soldagem de peles de peixe) por US$130.

¿ Vendemos peles de peixes marinhos e amazônicos que custam, em geral, 150 euros na Europa ¿ diz Creusa Batista, coordenadora do Programa Brasileiro de Qualidade de Couro.

Ela destaca que o Brasil também exporta bucho de boi para a confecção de bolsas femininas, pés de peru e de chester para a fabricação de pulseiras de relógio e até couro de avestruz. Entre as supergrifes interessadas nos produtos destacam-se Versace, Gucci, Prada e Dolce & Gabbana.

¿ O mercado internacional quer comprar e temos para vender ¿ acrescenta Creusa.

O empresário Jorge Estebão Thomas, dono da Leatherjet Comércio, Exportação e Importação, prepara-se para vender artigos e pele de avestruz para Europa e Oriente Médio. Thomas vende botas, bolsas e couro de avestruz no mercado interno e ressalta que a pele do animal chega a custar até cinco vezes mais do que o couro bovino. Uma bota pode não sair por menos de R$700.

¿ Vendemos, principalmente, para São Paulo, Belo Horizonte e Rio ¿ diz.

Outro setor que vem crescendo é a produção de quadros e outros objetos de arte feitos com borboletas. Assim como os demais empresários que trabalham com produtos animais exóticos, os fabricantes precisam seguir as normas do Ibama. A empresária Elizabeth Vavassori avisa que só pega os insetos em seu viveiro depois que eles morrem naturalmente. Ela exporta para Canadá e EUA.