Título: AGENTE PROCESSA CIA POR IMPEDIR PUBLICAÇÃO DE LIVRO
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 31/07/2005, O Mundo, p. 42

Paramilitar acusa agência de cometer erros na caça a Osama bin Laden no Afeganistão

WASHINGTON. Gary Bertsen, que liderou uma equipe paramilitar da CIA cujo objetivo era capturar Osama bin Laden no Afeganistão, em 2001, abriu um processo contra a agência de espionagem semana passada. Ele alega que ela está tratando de impedir a publicação de um livro seu, revelando as falhas americanas que permitiram ao terrorista escapar ileso.

¿- Nessa ação meu cliente conta que Bin Laden estava em Tora Bora no início do ataque e, essencialmente, o que aconteceu lá e como ele conseguiu escapar. Muita gente diz que não sabíamos que Bin Laden estava lá, mas Bertsen conta detalhadamente que, na verdade, sabíamos qual era a sua localização e o deixamos fugir ¿ afirmou o advogado Roy Krieger.

Segundo ele, a CIA ¿ que tem o direito de ler artigos e livros de seus funcionários antes de que eles sejam publicados ¿ pretende reescrever, ou retirar, 30 páginas do livro que tem 330 e cujo lançamento está programado para outubro próximo:

¿ Uma mexida dessas será suficiente para matar a publicação ¿ disse Krieger.

Por outro lado, Peter Brookes, que até recentemente foi subsecretário assistente de Defesa dos EUA, comentou que a essa altura capturar ¿ ou matar ¿ Bin Laden já não é mais essencial para vencer a guerra ao terror. Ele admitiu que o envolvimento dos EUA no Iraque se tornou fonte de inspiração e ímã para terroristas:

¿ A al-Qaeda agora é um movimento, uma ideologia. Capturar Bin Laden, por melhor que fosse, não vai mudar a guerra ao terror. O que vemos hoje é gente motivada pela ideologia da al-Qaeda entrando em ação em toda parte ¿ disse Brookes.

Essa realidade obrigou os EUA a criarem um novo plano, definido como ¿uma evolução¿ do atual. Ele deixa para trás as referências à al-Qaeda, a Bin Laden, e sugere até mesmo que se use menos (de preferência muito raramente) a palavra terrorismo.

¿ Não se trata de uma mudança de pensamento, mas de uma continuação do enfoque adotado imediatamente depois dos atentados de setembro de 2001 ¿ argumentou Lawrence Di Rita, porta-voz do Pentágono.

Em vez da decantada guerra global ao terror, que a princípio o presidente George W. Bush cometeu a imprudência de definir como ¿cruzada¿ ¿ sem levar em conta o significado histórico-religioso desse termo ¿ daqui por diante vai se falar em ¿luta global contra o extremismo violento¿.

Depois de passar por 40 revisões, que o reduziram de 70 para 25 páginas (mais 13 anexos), será divulgado nos próximos dias um informe dizendo que a ameaça terrorista aos EUA passa a ser definida como ¿extremismo islâmico¿, um movimento que ¿explora o islamismo para fins políticos¿.

O documento deixa claro que o inimigo se transformou num polvo: passou de al-Qaeda para uma dúzia de grupos radicais. O governo americano também deixa claro que finalmente entendeu que se trata de uma batalha que não pode ser levada adiante apenas através de forças militares: será preciso reduzir o apelo ideológico do terrorismo.(J.M.P.)