Título: Genu confirma malas para PP
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 30/07/2005, O País, p. 3

Assessor de Janene diz à PF que repassou dinheiro de Valério a dirigentes do partido

O depoimento do assessor parlamentar João Cláudio Genu à Polícia Federal poderá complicar ainda mais a situação do líder do PP na Câmara, José Janene (PR), do ex-líder Pedro Henry (MT) e do presidente nacional do partido, Pedro Corrêa (PE), todos acusados de receber o suposto mensalão que o PT pagaria a parlamentares aliados. Para surpresa dos investigadores do caso, Genu confirmou que recebeu remessas de dinheiro do empresário Marcos Valério e que levava os recursos em malas para o PP. Ao longo do interrogatório, citou os nomes de Janene, Henry e Corrêa.

Sumido desde o início do escândalo, Genu reapareceu ontem e, diante de delegados e procuradores, revelou boa parte do esquema. Chefe de gabinete de Janene, Genu disse que foi várias vezes à agência do Banco Rural em Brasília para buscar dinheiro remetido de Belo Horizonte por empresas de Marcos Valério, apontado até agora como um dos operadores do mensalão. O assessor não informou os valores dos repasses, mas os investigadores suspeitam que foram somas expressivas.

Simone distribuía o dinheiro, diz Genu

O dinheiro era empacotado em envelopes e levado para a tesouraria do PP, no 17º andar do anexo II do Senado, em malas. Pelos dados da CPI dos Correios, Genu fez pelo menos cinco saques na agência do Rural no valor total de R$1,15 milhão entre setembro de 2003 e janeiro de 2004. O dinheiro era entregue a Genu por Simone Vasconcelos, funcionária de uma das agências de publicidade de Valério. Ela viajava a Brasília com a missão de distribuir o dinheiro para pessoas indicadas pelo patrão.

Genu disse ainda que as ordens para buscar o dinheiro eram dadas por um funcionário da tesouraria do PP, identificado como Barbosa, e que checava as ordens principalmente com o deputado Pedro Corrêa, presidente do PP. Barbosa será chamado para depor. Ele responsabilizou também Janene e Pedro Henry pelos saques. Mas o assessor nada disse sobre o que a cúpula do partido fazia com o dinheiro.

- Meu papel era buscar o dinheiro e entregar na tesouraria. Eu era assessor, não sou da executiva do partido - disse Genu, segundo um dos investigadores do caso.

A procuradora da República Raquel Branquinho, que participa das investigações, considerou muito importante o depoimento de Genu, que reforça os indícios de que parlamentares foram beneficiados com recursos repassados por Valério.

- As declarações dele dão materialidade às denúncias investigadas - disse Raquel.

Genu foi intimado de manhã e algumas horas depois se apresentou à PF. O depoimento ao delegado Luís Flávio Zampronha começou por volta das 15h. O assessor de Janene foi apontado, no início do mês passado, como um dos intermediários dos repasses de Valério para o líder do PP. Janene foi incluído na lista de beneficiários do suposto mensalão pelo ex-presidente do PTB Roberto Jefferson (RJ), que rompeu com o governo e denunciou o pagamento de mesadas.

A PF pretende ouvir ainda o ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas e os demais assessores e parlamentares acusados de receber repasses de Valério. A PF já identificou ao menos 30 beneficiários dos saques, cujos nomes estão em faxes enviados por empregados de Valério para o Banco Rural em Brasília. Os documentos foram apreendidos no dia 15 deste mês em Belo Horizonte. A PF informou que ainda ontem enviaria uma cópia do depoimento de Genu à CPI dos Correios.

Depois de seis horas de interrogatório Genu deixou a PF acompanhado de dois advogados. Ele não quis dar entrevistas. Ao longo do depoimento, o assessor disse que estava aborrecido com o envolvimento de seu nome com as denúncias do mensalão. Ele se apresentou como funcionário público, sem influência partidária.

Informações em poder da CPI dos Correios indicam, porém, que Genu teve expressivo aumento no patrimônio desde que deixou um cargo no Ministério da Agricultura para atuar com assessor parlamentar na Câmara.

A PF vai aprofundar as investigações sobre supostas relações do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares com o empresário Márcio Pavan, preso em Porto Alegre por suposto envolvimento com a organização do argentino César de la Cruz Arrieta, acusado de fraudes milionárias contra Previdência Social e contra a Receita Federal. Pavan deverá ser interrogado pelo delegado Praxísteles Praxedes na próxima semana.

Em janeiro e fevereiro deste ano, Pavan comentou com o advogado Marcelo Fontoura Valle e um interlocutor identificado apenas como Dênis que Delúbio estava arrecadando R$10 milhões para pagar o PTB de Jefferson. Em negociações intermediadas por Dênis, Delúbio teria pedido R$70 mil ao grupo de Pavan.

COLABOROU Evandro Éboli

Legenda da foto: JOÃO CLÁUDIO GENU, chefe de gabinete do líder do PP na Câmara, deixa a sede da Polícia Federal em Brasília após depoimento