Título: 'O depoimento joga por terra versão de que dinheiro era para campanha'
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 30/07/2005, O País, p. 4

Integrantes da CPI dos Correios vão tentar apressar depoimento de Genu

BRASÍLIA. Integrantes da CPI dos Correios vão tentar apressar o depoimento do assessor do PP João Cláudio Genu e levantaram ontem a hipótese de ele ter feito acordo de delação premiada para contar na Polícia Federal tudo o que sabia do esquema de distribuição de recursos para integrantes da cúpula do PP. Para alguns, foi uma surpresa, porque a informação era que Genu estava sendo intensamente monitorado pelo líder do PP, José Janene, e só deveria falar sob sua orientação.

A juíza Denise Frossard (PPS-RJ) e o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) consideram que foi importantíssimo o depoimento do assessor de Janene e dizem que agora a CPI deve ouvi-lo o mais rapidamente possível.

- O que houve foi a costura da prova. Como ele ia se dar mal, deve ter feito um acordo. Foi inteligente da parte dele. A prova oral casa com a documental. Agora dá para fazer o desenho que não é nem feio nem bonito, é o real - disse Denise.

Cardozo afirmou que o depoimento de Genu confirma a denúncia que a CPI está investigando, ou seja, prova efetivamente um pagamento indevido feito a deputados:

- Esse depoimento exige uma investigação ainda mais profunda para que possamos identificar a exata extensão dos beneficiários do ilícito e os verdadeiros responsáveis. Ao Valério não interessava dar dinheiro para o PTB. Temos que trazer o Genu para depor na CPI o mais rápido possível.

O deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) acredita que, com esses fatos novos, Henry, Corrêa e Janene serão obrigados a revelar para quem distribuíram o dinheiro:

- O depoimento joga por terra a versão de que o dinheiro era para financiamento de campanha. Queremos saber agora os destinatários finais.

- Ao jogar a responsabilidade para os três, ele põe novos personagens nas denúncias do mensalão. Temos que aguardar que as pessoas citadas se expliquem. Como Genu era apenas um intermediário, ele teve que falar quem eram os beneficiários para tirar de si a responsabilidade - disse o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia.

O deputado Pedro Henry, ex-líder do PP na Câmara, negou que tenha pedido a João Cláudio Genu para receber dinheiro do empresário Marcos Valério de Souza em nome dele ou do partido. Henry disse que não conhecia Valério e que nunca se beneficiou de verbas repassadas pelo empresário.

- Nunca pedi para ele ir buscar dinheiro lá. Ele não é meu assessor, não conhece Valério e nem sabia da existência desse sistema (mensalão) - afirmou.

Henry disse que, se for necessário, vai depor sobre o assunto na Polícia Federal.

Janene disse que só vai se manifestar sobre as declarações de Genu à Polícia Federal depois que tiver acesso ao depoimento do assessor. Segundo a assessoria de imprensa, a resposta do deputado será dada pela presidência do partido.

O presidente do PP, deputado Pedro Corrêa (PE), também citado por Genu, não retornou os recados deixados em seu gabinete e na caixa postal do celular.

Colecionador de carros importados

João Cláudio Carvalho Genu, chefe de gabinete do líder do PP na Câmara, José Janene (PR), surgiu na crise numa denúncia do deputado Roberto Jefferson. Ele seria o operador do esquema do mensalão dentro do PP. Segundo reportagem da revista "Época" publicada em junho passado, Genu, conhecido também como João Mercedão, era quem fazia a distribuição do dinheiro na bancada do PP.

A verba saía de estatais comandadas pelo partido e era repassada pelo assessor, cujo apelido, Mercedão, vem do fato de ele ter carros importados. "Época" também revelou que Genu tinha renda incompatível com seus bens. Recebia R$5.700 líquidos da Câmara, embora tenha em seus nome vários carros importados e imóveis de luxo.

Os valores repassados aos deputados variavam de R$5 mil a R$30 mil, a depender da importância do político. A entrega era feita, muitas vezes, na casa que Genu mantinha para festas no bairro Park Way, em Brasília.

Legenda da foto: JANENE E Corrêa: depoimento de Genu pôs dupla na lista do mensalão