Título: Tentativa de acordão na Câmara sofre reação
Autor: Ilimar Franco/Isabel Braga/Soraya Aggege:
Fonte: O Globo, 30/07/2005, O País, p. 8

Severino confirma manobra para evitar processos no Conselho de Ética mas CPI, governo e PT descartam

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), não só confirmou ontem a tentativa de um acordão para evitar processos por quebra de decoro contra parlamentares do PP e do PL no Conselho de Ética da Casa como defendeu que a apuração fique concentrada na CPI dos Correios. Mas a manobra provocou forte reação de integrantes da CPI dos Correios, do PT e do governo, que descartaram qualquer tentativa de acordo para evitar a cassação de mandatos por quebra de decoro parlamentar.

O acordão estava sendo costurado pelos deputados Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Valdemar Costa Neto (PL-SP), com o aval de Severino. Depois de uma negociação mediada pelo líder do PTB, José Múcio (PE), Severino reuniu em sua residência oficial, terça-feira à noite, Valdemar, o líder do PL, Sandro Mabel (GO), e o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Severino alegou que seria muito ruim para a imagem da Câmara se um grande número de parlamentares fosse cassado.

Severino: "A CPI pode ir ao âmago da questão"

Ontem, em São Paulo, Severino confirmou ser favorável a um acordo para evitar que os deputados sejam submetidos a processos de perda de mandato no Conselho de Ética.

- O Conselho não tem como fazer as investigações que a CPI tem. A CPI tem poderes amplos. Então a CPI pode ir ao âmago da questão, e o Conselho de Ética não vai. Eles não podem, por exemplo, fazer convocações... Entendeu? Foram feitas várias propostas mas não se chegou a conclusão alguma. A reunião foi até a noite e não se chegou a conclusão alguma - contou Severino, afirmando que, em sua opinião, ainda pode haver um acordo.

Chinaglia, que havia consultado o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, negou-se a participar dos entendimentos.

- O governo não vai patrocinar nenhum acordo desse tipo. A ordem é investigar tudo - disse Jaques Wagner para Chinaglia ao telefone.

- Não há hipótese de acordo a esta altura. Quem errou vai ter que pagar por isso, inclusive os nossos - disse o secretário-geral do PT, deputado Ricardo Berzoini.

Roberto Jefferson tomou a iniciativa de propor o acordo e usou José Múcio para levar sua proposta a Valdemar. Seu objetivo era recuar das representações contra os colegas do PL desde que Valdemar retirasse a representação que havia feito ao Conselho de Ética contra ele.

Jefferson queria que todos fossem submetidos só ao julgamento da CPI dos Correios, onde têm aliados. Na semana passada, já trabalhando no acordo, Jefferson reuniu-se com o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC). Mas os representantes do governo avaliaram que o único beneficiado com o acordo seria o próprio Jefferson e que o desgaste que teriam na opinião pública seria imenso.

"Daqui a pouco teremos 300 deputados sendo julgados"

Severino já havia dito que não havia impedimento regimental para que ele aceitasse a retirada do requerimento do PL ao Conselho de Ética contra Jefferson. Além de Chinaglia, o acerto também foi inviabilizado pelo líder do PL, Sandro Mabel, que disse na reunião que não aceitava livrar Jefferson.

- Há muita gente ameaçando mandar deputados para o Conselho, um tiroteio. Daqui a pouco teremos 300 deputados sendo julgados. Não teremos mais quem vote os assuntos na Câmara - disse o presidente do PP, Pedro Correa (PE).

Com o fracasso do acordo, o advogado de Jefferson, Itapoã Messias, disse que na semana que vem serão protocoladas representações contra Valdemar, Mabel, Janene, Rodrigues e José Dirceu no Conselho de Ética. Outros deputados estão na mira de Jefferson, inclusive do PT.

- Não vamos nos restringir aos quatro casos. Não promoveremos uma quantidade de representações inviável, pois sabemos os limites da Casa. Mas incluiremos mais, inclusive do PT- disse o advogado.

Severino não quis revelar os nomes de quem participou da reunião em sua casa. Segundo ele, alguns deputados propuseram a retirada da representação contra Valdemar:

- Existe hoje uma preocupação de todos os brasileiros. Não é necessário ser do governo ou parlamentar. Esse impasse tem criado dificuldades para o país e se houver delongas poderá atingir a economia.

Para Jefferson, o seu destino político depende do Conselho de Ética e da CPI.

- Na CPI, a possível cassação será discutida em outro momento - disse o advogado.

Legenda da foto: DELCÍDIO ENTRE Fruet e Serraglio: integrantes da CPI dos Correios reagiram ao acordo para evitar cassações