Título: 'CPI NÃO FEZ ACORDO E NEM VAI FAZER'
Autor: Martha Beck/Luiza Damé/Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 30/07/2005, O País, p. 8

Delcídio, Serraglio, Tarso e ministros reagem às negociações para impedir cassações

BRASÍLIA. A tentativa de um acordo entre o PTB e o PL para evitar processos de cassação de parlamentares pelo Conselho de Ética da Câmara provocou forte reação dos integrantes da CPI - inclusive do presidente, senador Delcídio Amaral (PT-MS), e do relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) - do presidente do PT, Tarso Genro, e de ministros.

É consenso que são inevitáveis as punições de parlamentares e outros envolvidos no esquema montado pelo empresário Marcos Valério para financiar o PT e outros partidos. Tarso foi taxativo na defesa da punição de todos os envolvidos e disse que a sociedade não aceitaria qualquer tipo de acordão.

- Achamos natural que o presidente do Supremo tenha essa preocupação (com a governabilidade), como guardião do tribunal, que é o guardião da Constituição. Mas de nós não sairá proposta de acordo e não compartilharemos de nenhum acordo que signifique tolerância. Tenho certeza de que a sociedade não aceita.

Delcídio também negou acordo:

- A CPI não fez acordo e nem vai fazer. Aliás, não fomos procurados por ninguém.

Serraglio: "Nosso trabalho não vai acabar em pizza"

Serraglio destacou que a CPI está obtendo dados que comprovam crimes como sonegação fiscal, corrupção e peculato e que parlamentares serão cassados:

- Nós temos tudo documentado e, por isso, o nosso trabalho não vai acabar em pizza. Se tem parlamentar envolvido em corrupção, ele vai acabar sendo cassado.

O relator disse ter certeza que a punição dos culpados virá do Congresso ou da Justiça:

- Uma pessoa pode ter o mandato cassado pelo rito político, por meio do Conselho de Ética e da votação em plenário. Se isso melar, ainda existe a lei 8.429, que trata dos ilícitos contra a administração pública. Ele pode perder os direitos políticos e, com isso, o mandato.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), integrante da CPI, disse que os parlamentares que apoiarem a idéia de o PL retirar a representação feita contra Jefferson enfrentarão uma situação catastrófica:

- Tem um ditado que diz que quando a esperteza é muito grande, ela vira bicho e come o esperto. Quiseram ser espertos ao entrarem com representação contra Jefferson e a esperteza se voltou contra o PL e o Valdemar. Agora, ele quer ser esperto ao pedir o fim dessa representação. Isso vai ter um efeito catastrófico.

Depois de uma solenidade no Palácio do Planalto, ontem, os ministros da Saúde, Saraiva Felipe (PMDB), e do Trabalho, Luiz Marinho (PT), condenaram a tentativa de acordo para evitar cassações.

- Não cabe acordo para evitar cassação de quem tem culpa. Se houver uma pizza enorme no Congresso, certamente a população reagirá - afirmou Marinho.

- Qualquer acordo que vise a esconder situações ou diminuir danos não vai contribuir para que tenhamos à frente mais credibilidade na vida política - disse Saraiva Felipe.