Título: PARA PF, VALÉRIO TINHA PLANO DE FUGA
Autor: Bernardo de la Peña/Jaílton de Carvalho
Fonte: O Globo, 30/07/2005, O País, p. 10

Publicitário mantinha jatinho particular à sua disposição no aeroporto de BH

BRASÍLIA. Além das gravações telefônicas que mostraram a intenção de funcionários do publicitário Marcos Valério de destruir notas fiscais de suas agências de propaganda, o pedido de prisão preventiva feito pela Polícia Federal ao Supremo Tribunal Federal esta semana tem outra motivação: a suspeita de que o empresário, acusado de ser o operador do esquema de pagamentos a deputados da base aliada, tinha um plano de fuga para o caso de a Justiça determinar a sua prisão.

Enquanto o inquérito que investigava Valério tramitava na 4ª Vara Federal de Minas Gerais, o publicitário estava sendo monitorado pela PF. A investigação mostrou que ele mantinha um jatinho particular à sua disposição na Líder Taxi Aéreo no aeroporto de Belo Horizonte e que poderia tentar deixar o país caso a sua prisão fosse decretada pela Justiça. No pedido que fez ao Supremo, o delegado federal Luiz Flávio Zampronha solicitou também a apreensão dos passaportes de Valério e de sua mulher Renilda de Souza.

Ao despachar o pedido, o ministro Nelson Jobim negou o pedido de prisão e de apreensão dos passaportes. Para Jobim, o pedido deveria ter sido feito pela Procuradoria-Geral da República. A Polícia Federal decidiu pedir a prisão de Valério por precaução por acreditar que o publicitário tem recursos suficientes para sair do país.

- Não podíamos deixar que ele fugisse para depois pedir a prisão - justificou-se um dos responsáveis pela investigação.

Os integrantes da CPI dos Correios acreditam que os advogados de Valério promoveram uma manobra protelatória para transferir a investigação da Justiça Federal de Minas para o Supremo. Com isso, evitaram que o monitoramento telefônico e até a sua prisão pudesse ser pedida na Justiça Federal de Minas. Ao citar os nomes dos deputados Bispo Rodrigues (PL-RJ) e Roberto Jefferson (PTB-RJ), que têm foro privilegiado, no depoimento que prestou na Procuradoria-Geral da República, Valério conseguiu retirar do juiz federal Jorge Macedo da Costa a competência para tratar do caso.