Título: LADRÕES DE RESIDÊNCIA
Autor: Érika de Castro
Fonte: O Globo, 30/07/2005, Rio, p. 16
Polícia caça duas quadrilhas de jovens que assaltam prédios na Zona Sul e na Barra
Duas quadrilhas de assaltantes de prédios agem atualmente na Barra e na Zona Sul. Ambas têm em comum a participação de jovens, entre 18 e 25 anos, que atuam em horários diferentes, mas com estratégias similares. Uma delas, a de Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom , já tem os seis integrantes identificados. A outra, a polícia suspeita que seja formada por pelo menos dois remanescentes do bando de Liliane Lube de Araújo, a Lili Cara-Pintada, de 23 anos, presa em Angra dos Reis no ano passado. Eles teriam chefiado as invasões a dois edifícios em Ipanema, nos últimos 15 dias.
Para o delegado-titular da 16ª DP (Barra), Eduardo Baptista, as duas quadrilhas agem com o mesmo propósito: a compra de drogas. Investigações indicam que jóias e aparelhos eletrônicos roubados em assaltos recentes estão sendo vendidos por terceiros a traficantes da Rocinha.
- As invasões a residências servem de pano de fundo para manter o vício. Quase tudo é revendido em favelas, principalmente na Rocinha, onde o acesso para jovens de classe média da Zona Sul é mais fácil - afirma o delegado.
A suspeita de que os assaltos aos edifícios da Rua Nascimento Silva, no dia 20 passado, e da Prudente de Moraes, no dia 24, foram praticados pela mesma quadrilha surgiu depois da análise da ação dos bandidos. Dois jovens que eram chefiados por Lili Cara-Pintada, segundo a polícia, também teriam sido reconhecidos por vítimas. Responsável pelas investigações dos assaltos em Ipanema, o delegado da 14ª DP (Leblon), José Alberto Pires Lage, diz que a identificação do grupo ainda está em fase inicial.
- Sabemos que os dois roubos foram cometidos pela mesma quadrilha. A mecânica é muito similar: um deles rende o porteiro e o restante entra pela garagem, sempre à noite - diz Lage.
Já a invasão ao prédio da Rua Aníbal de Mendonça, no dia 25 passado, não teria sido cometida por um grupo organizado. Segundo o diretor de Polícia da Capital, Ricardo Martins, a ação pareceu improvisada:
- Eles agiram pela manhã e numa rua de grande movimento. Esse detalhes dão a impressão de que foi um grupinho, que se reuniu na esquina e decidiu fazer o roubo.
Em cinco meses, 719 casos no Rio
Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), nos cinco primeiros meses deste ano foram registrados 719 casos de roubo a residências no Rio. Só na semana passada, foram três em Ipanema, incluindo o albergue Beach House, na Rua Barão da Torre. Ainda de acordo com o ISP, no mesmo período do ano passado foram registrados 782 casos, representando uma redução de 8,1% nesse tipo de crime.
Na Barra e no Recreio, somente este mês, foram quatro assaltos, sendo três atribuídos a Pedro Dom. O delegado da 16ª DP, Eduardo Baptista, afirma que a quadrilha está neutralizada por conta da superexposição. O policiamento nos dois bairros foi reforçado, a partir das 15h, com rondas de oito patrulhas da delegacia.
- Até outros ladrões estão usando o nome dele para praticar roubos. Eles não vão arriscar nova investida agora e estamos seguindo cada passo do grupo - diz o delegado.
Dos seis integrantes da quadrilha, três estão com pedido de prisão temporária decretada há 20 dias. São eles: Pedro Dom e seus dois cúmplices, Mário Duarte Pereira Junior, o Marinho do Leme, e Valber de Carvalho Nideck, que seria morador de Botafogo e com antecedentes criminais por assalto a residências. A aparência insuspeita dos criminosos prejudica as investigações:
- Todos já estão identificados por fotos, mas são jovens de classe média e bem vestidos, que não despertam suspeita - diz o delegado Baptista, acrescentando que a quadrilha costuma agir no início da noite em ruas arborizadas, sem comércio, com pouca iluminação e abordando moradores que estejam chegando ou saindo do prédio.
Segundo a PM, moradores e funcionários de edifícios devem cumprir regras básicas de segurança:
- O uso do interfone é fundamental porque evita o contato próximo com a pessoa que quer chegar ao prédio. Só na Zona Sul, a PM já formou 889 porteiros no curso de segurança - explica o relações públicas da PM, tenente-coronel Aristeu Leonardo.
Consultor de segurança do Sindicato da Habitação do Rio (Secovi/RJ), Raimundo Castro explica que um porteiro bem preparado e um sistema de monitoramento de câmeras faz diferença na hora de evitar um assalto:
- Cerca de 98% dos assaltos ocorrem por alguma falha de moradores ou funcionários. É preciso investir em tecnologia e treinamento de pessoal. Ter atenção com quem se fala, e o que se fala, é fundamental. Há casos em que a pessoa finge estar interessada num apartamento do prédio apenas para descobrir algo sobre um morador e seu imóvel.
INCLUI QUADRO: SAIBA MAIS SOBRE OS ASSALTOS