Título: PRESIDENTE DA ARGENTINA AMEAÇA ELEVAR IMPOSTOS PARA CONTER INFLAÇÃO
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 30/07/2005, Economia, p. 26

Governo pode aumentar tarifa de exportação para estimular venda interna

BUENOS AIRES. A escalada da inflação já começou a esfriar o consumo dos argentinos e passou a ser um dos principais motivos de preocupação do governo do presidente Néstor Kirchner, que ameaça fazer novos aumentos de impostos das exportações. Na semana passada, ao ser informado sobre a alta de 5% nos preços dos laticínios, Kirchner elevou o imposto de queijo e leite vendidos ao exterior. A medida foi duramente criticada pela União Industrial Argentina (UIA).

- As medidas adotadas pelo governo são conjunturais, mas não solucionam os problemas no longo prazo. O aumento da inflação está sendo provocado por uma soma de fatores: a atividade econômica está passando por um bom momento, a demanda começou a crescer fortemente e houve aumento de salário, decretado pelo governo - disse Jorge Sorabilla, membro do comitê Executivo da UIA.

Nas próximas semanas, o governo poderia elevar o imposto às exportações de outros produtos como trigo, carne e frango. Desde a desvalorização, o preço da carne, por exemplo, foi reajustado em 110%.

Segundo o Indec (o IBGE argentino), em junho passado as vendas nos supermercados recuaram 1,9% em relação ao mês anterior, arrastadas principalmente pelo expressivo aumento nos preços dos alimentos. Esta semana, o presidente chegou a ameaçar empresários locais que continuem reajustando preços:

- Queremos empresários comprometidos com a Argentina, queremos empresários solidários, esse é um desejo do povo argentino porque queremos construir um novo país com eles - disse Kirchner.

Inflação pode ampliar crise social

O grande temor do presidente é que a pressão da inflação, que este ano deverá superar 10%, provoque um aprofundamento da crise social. Segundo analistas locais, a cada alta de 1% na inflação, 150 mil argentinos de classe média passam a ser pobres e 90 mil pobres passam a ser indigentes (pessoas que não têm recursos para satisfazer suas necessidades básicas de alimentação).

- Estamos projetando uma inflação anual entre 11% e 12%. Existem muitos motivos para estarmos preocupados. A expectativa de aumento da inflação está afetando o consumo e deverá atingir a atividade econômica - afirmou o economista Aldo Abram, diretor da empresa de consultoria Exante.

Legenda da foto: NÉSTOR KIRCHNER: "Queremos empresários comprometidos"