Título: GASTO COM JUROS DA DÍVIDA PÚBLICA É O MAIOR DA HISTÓRIA
Autor: Ênio Vieira
Fonte: O Globo, 30/07/2005, Economia, p. 28

No 1º semestre, país pagou mais de R$ 80 bilhões

BRASÍLIA. O setor público (União, estados, municípios e empresas estatais) realizou uma economia recorde no primeiro semestre de 2005 para o pagamento do maior gasto já registrado em juros da dívida pública. O superávit primário (a diferença entre receitas com impostos e despesas, exceto juros) cresceu 29,8% de janeiro a junho, passando de R$46,183 bilhões em 2004 para R$59,950 bilhões este ano. Nos últimos 12 meses, o superávit primário está em R$94,879 bilhões, o equivalente a 5,08% do Produto Interno Bruto (PIB). Apesar de ter um objetivo de economizar 4,25% do PIB em 2005, o governo trabalha pela primeira vez desde 1998 sem meta fiscal, num acordo formal com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O arrocho fiscal, no entanto, serviu tão-somente para acompanhar o crescimento de 29,6% no gasto com juros da dívida, que alcançou o nível inédito de R$80,128 bilhões no primeiro semestre. O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, disse que houve uma mudança no perfil com maior peso da parcela corrigida pela taxa de juros Selic, hoje em 19,75% ao ano, e a menor participação do câmbio no endividamento.

Alta de juros fez dívidasubir no primeiro semestre

Segundo ele, a taxa Selic corrige atualmente 51,54% da dívida líquida do setor público, que subiu de R$956,677 bilhões para R$965,988 bilhões no primeiro semestre de 2005. O BC subiu a taxa Selic de 16% ao ano em setembro de 2004 para 19,75% em maio passado. O impacto na dívida do setor público será um gasto recorde com juros, previsto em R$155 bilhões este ano, contra R$128,256 bilhões em 2004.

Apesar disso, a relação entre a dívida líquida e o PIB caiu de 51,7% para 50,9%.

- A despesa com juros nominais está mais alta, devido à composição da dívida e à taxa Selic acumulada em 12 meses, que está em alta - disse.

Lopes acrescentou que a economia feita até agora no esforço fiscal não significa uma margem para que o governo afrouxe os gastos.

- No fim do ano, sempre temos a despesa sazonal maior de dezembro, com décimo terceiro e férias.

INCLUI QUADRO: CONFIRA AS CONTAS PÚBLICAS / RESULTADO PRIMÁRIO / DÍVIDA LÍQUIDA DO SETOR PÚBLICO