Título: INCÊNDIOS EM REFINARIAS PUXAM PREÇO DO PETRÓLEO
Autor:
Fonte: O Globo, 30/07/2005, Economia, p. 31

Cotação em Nova York supera os US$61 o barril. Empresas estariam operando além do limite

NOVA YORK e LONDRES. Um incêndio na terceira maior refinaria dos Estados Unidos fez os preço da commodity em Nova York superar os US$61 o barril. Em apenas 24 horas, ocorreram quatro incêndios em refinarias. Estes acidentes alimentaram os temores do mercado de que as refinarias estejam trabalhando além de seu limite, o que significaria que a capacidade mundial de produção está mais restrita do que se pensava.

A cotação do barril do cru leve americano, negociado na Bolsa Mercantil de Nova York, subiu ontem 1%, para US$60,57. No entanto, durante as negociações do dia, esse tipo de petróleo chegou a ser cotado a US$61,05, apenas US$1,05 abaixo do recorde histórico, registrado no dia 7 de julho passado. Já na Bolsa Internacional de Petróleo, em Londres, o preço do barril do Brent, referência internacional da commodity, também avançou 1%, fechando a US$59,37.

Preços elevados reduzem demanda na Ásia

Na quinta-feira à noite, explosões provocaram um grande incêndio na refinaria da British Petroleum (BP), no Texas, forçando a companhia a paralisar uma de suas unidades de refino. A empresa, no entanto, não interrompeu toda sua produção. O incêndio, que só foi controlado ontem pela manhã, aconteceu quatro meses depois de uma explosão na refinaria provocar a morte de 15 trabalhadores.

O acidente coincidiu com outro incêndio, também na quinta-feira, só que pela manhã, numa refinaria da Murphy Oil Corp., em Louisiana, interrompendo uma produção diária de 110 mil barris. Ainda no mesmo dia, uma explosão na plataforma de petróleo da indiana Bombay High causou inúmeras vítimas.

Os cortes de produção não ocorreram apenas em refinarias nos EUA. No outro lado do Atlântico, a BP suspendeu a produção de 120 mil barris diários do campo de Schiehallion, no Mar do Norte, após um incêndio de menor proporção em suas instalações.

Estes últimos casos voltaram a atiçar as preocupações sobre a reduzida capacidade das refinarias, deixando o mercado nervoso diante da possibilidade de uma interrupção da produção. Frédéric Lasserre, da SG Commodities, com sede em Paris, disse ontem que as refinarias começam a mostrar sintomas de cansaço, por estarem produzindo no máximo de sua capacidade.

- As refinarias gostam de trabalhar a todo vapor nesta época do ano - avalia Jim Ritterbusch, analista da Ritterbusch & Associates. - Estamos em um período de grande demanda, e as refinarias estão produzindo à altura do momento.

Por outro lado, a boa notícia, segundo os operadores, é que a alta dos preços do petróleo levou a uma diminuição da demanda na Ásia, região que vinha pressionando as cotações, sobretudo pelas compras chinesas. Os altos preços levaram as refinarias a reduzirem suas operações e os economistas a refazerem para baixo as previsões de crescimento da demanda mundial.

A refinaria da Coréia do Sul, SK Corporation, reduzirá sua produção de cru para agosto em 4%, após reajustar suas cotas de refino do produto, disse ontem uma fonte da empresa. Com isso, a SK acompanha a mesma posição de suas principais rivais na China e Japão.

- Para ser honesto, é muito difícil comprar com o preço acima de US$60 o barril - disse a fonte.

No Japão, a principal refinaria da Nippon Oil Corporation disse que continuará reduzindo sua taxa de processamento de petróleo para 974 mil barris diários, 7% menos do que há um ano. Uma pesquisa realizada pela agência Reuters com mais de cem analistas na última quinta-feira revelou que, com a notável exceção da Índia e China (que estão crescendo mais rapidamente do que o esperado), a maioria acredita que os países asiáticos terão sua expansão econômica afetada pelos altos preços do petróleo.

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Legenda da foto: EXPLOSÃO NA refinaria da British Petroleum: para analistas, unidades estão trabalhando acima do limite