Título: A sucessão
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 01/08/2005, O Globo, p. 2

As denúncias de corrupção contra o governo Lula que estão sendo apuradas pela CPI dos Correios já provocaram mudanças no quadro sucessório. A oposição passou a ter chances reais de impedir a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No PSDB, a corrida interna está se decidindo em favor do prefeito de São Paulo, José Serra. No PMDB, Anthony Garotinho percorre o país.

O prefeito José Serra conversa diariamente com os tucanos da CPI dos Correios e está fazendo pesquisas qualitativas e quantitativas para calcular perdas e ganhos caso decida renunciar a seu mandato para concorrer à Presidência da República. Ele considera que os 40% de votos que obteve em 2002 o tornam o candidato natural. E seus aliados garantem que o governador Geraldo Alckmin (SP) não será obstáculo e que o governador Aécio Neves (MG) está imobilizado por causa do envolvimento dos tucanos mineiros com o empresário Marcos Valério de Souza e suas agências de publicidade.

O ex-governador do Rio Anthony Garotinho está procurando ganhar as bases do PMDB para sua candidatura. Ele está percorrendo o país e fazendo contato com os líderes regionais peemedebistas. Garotinho não tem adversários internos à altura, conforme mostram as pesquisas de intenção de voto. Para ele, o importante é viabilizar sua candidatura, garantindo tempo de propaganda na TV e palanques fortes em alguns estados, mesmo que o apoio do partido não seja integral.

Outro movimento importante está sendo feito pelo PFL. Seus dirigentes acreditam que é possível criar um terceiro pólo que seria beneficiário de uma guerra de morte entre PT e PSDB. O prefeito do Rio, Cesar Maia, acredita que há condições de relançar a Aliança Democrática, formada por PMDB e PFL e que foi a base política do governo José Sarney. O líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), e o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), já conversaram sobre a aproximação e aguardam o momento adequado para avançar.

As pesquisas de intenções de voto também mostram que, para o PT, a candidatura à reeleição do presidente Lula é uma necessidade. O partido não tem outro nome capaz de assegurar um bom desempenho eleitoral. Além disso, os petistas têm enorme dificuldade de encontrar outro candidato que assegure sua coesão interna. Para garantir a unidade partidária, seu presidente, Tarso Genro, está inclinando o partido para posições mais à esquerda.