Título: RODOVIAS QUE VALEM OURO
Autor: Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 01/08/2005, Economia, p. 15

Novas concessões atraem grupos nacionais e estrangeiros. Pedágio será mais barato

Enquanto o governo libera recursos a conta-gotas para reparos em trechos da deteriorada malha rodoviária federal, grandes grupos empresariais (nacionais e estrangeiros) movimentam-se para ampliar suas participações no bilionário mercado de concessões de rodovias. O alvo são três mil quilômetros de estradas federais que o Ministério dos Transportes deve licitar até o fim do ano, e que incluem o chamado ¿corredor do Mercosul¿, formado pela Fernão Dias (Belo Horizonte a São Paulo), Regis Bittencourt (São Paulo a Curitiba) e os trechos das BR-116 e BR-101 entre a capital paranaense e Florianópolis (SC).

Diferentemente dos contratos firmados nos anos 90, primeira fase das terceirizações de rodovias no país, as novas concessões estabelecem regras mais flexíveis para os investidores e fixam o IPCA como indexador das tarifas de pedágio. Na proposta mais recente do governo, que está sendo ajustada por determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), nas novas concessões o pedágio equivaleria a R$0,06 por quilômetro, contra uma média de R$0,07 que é cobrada atualmente nas concessões federais.

¿ Teremos um padrão (de rodovia e serviços) superior com tarifas menores que as atuais ¿ afirma o diretor de Outorgas do Ministério dos Transportes, Fábio Duarte.

O novo pacote de concessões federais contempla ao todo oito lotes, em que os vencedores das licitações terão que investir R$14,9 bilhões nos 25 anos de duração dos contratos. Somente nos primeiros cinco anos, os desembolsos serão de R$3 bilhões. Se os desembolsos exigidos nos contratos são vultosos, as possibilidades de receitas das concessionárias com pedágio e exploração de outros serviços também impressionam.

Receitas subiram 23% em 2004

Em 2004, as 36 concessionárias privadas de rodovias do país investiram pouco mais de R$1 bilhão nos dez mil quilômetros que administram. Mas suas receitas foram de R$4,429 bilhões, 23% mais do que as de 2003, fruto de um aumento de 4,6% no tráfego de veículos e dos reajustes das tarifas nos pedágios. Os dados são da Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ABCR).

¿ Há um potencial muito grande a ser explorado, pois hoje pouco mais de 6% da malha nacional está terceirizado. Com os novos lotes federais, subirão para 8,5% os trechos com concessionárias. É pouco, mas essas são rodovias estruturais, importantes para o país ¿ avalia o presidente da ABCR, Moacyr Duarte.

Em menos de dez anos (a primeira concessão rodoviária no Brasil data de 1996), três grandes conglomerados já se formaram para explorar o setor. O maior deles é a Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), holding que administra seis concessionárias (entre elas a Nova Dutra e a Ponte Rio-Niterói) e tem entre seus controladores pesos pesados da construção, como Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, e o grupo português Brisa.

Em segundo lugar nesse ranking está a EcoRodovias, uma associação da empreiteira CR Almeida com a Impregilo, uma das maiores construtora da Itália. Depois, vem a OHL do Brasil, filial do grupo espanhol OHL, que também tem negócios no Chile e no México, e opera três concessionárias aqui.

A criação de grupos com várias concessões é estratégica no setor, que exige solidez financeira para arcar com os investimentos do início de contrato, já que as concessionárias só podem passar a cobrar pedágio pelo menos seis meses depois de assumirem as rodovias.

¿ Empresas como a CCR são bem administradas, mas, se não crescerem e ganharem escala para reduzirem seus custos, podem perder rentabilidade ao longo dos anos ¿ diz o analista da Planner Corretora, Rodrigo Bonsaver.

Não foi à toa que a CCR abriu seu capital e, no início de 2004, arrecadou R$375 milhões com uma emissão de ações. Em outubro, comprou a ViaOeste (que administra a rodovia Castelo Branco) por R$485 milhões. Ainda assim, faturou R$1,46 bilhão e encerrou o ano com lucro líquido de R$263 milhões. Há 15 dias foi a vez de a OHL comemorar a conclusão da abertura de seu capital, numa oferta pública de ações e reforçou o seu caixa com R$431 milhões. Em 2004, seu lucro foi de R$24 milhões.

São Paulo também vai terceirizar vias

Na disputa pela ViaOeste, a CCR derrotou a OHL e outro grupo estrangeiro, a empreiteira espanhola Sacyr, cuja participação em duas concessionárias nacionais ¿ Triângulo do Sul e ViaNorte ¿ somam 678 quilômetros.

Essa disputa por concessões vai além das rodovias federais. O governo paulista trabalha para terceirizar três cobiçadas rodovias sob sua administração: o complexo Ayrton Senna/Carvalho Pinto (São Paulo-Taubaté), a Dom Pedro I (Campinas-Jacareí) e a Tamoios (São José dos Campos-Caraguatatuba). Somados, esses três trechos têm cerca de 400 quilômetros, mas exigirão das concessionárias R$1 bilhão em investimentos.

¿ A longo prazo a tendência é ter poucas empresas nesse setor e essa consolidação se dará com maior vigor quando as licitações terminarem ¿ prevê Bonsaver.