Título: PASSADO CRISTÃO NA RÉPLICA DE FACHADA DE UMA IGREJA
Autor: Gilberto Scofiled Jr.
Fonte: O Globo, 01/08/2005, O Mundo, p. 19

Missionários portugueses chegaram à cidade em 1567

NAGASAKI, Japão. Uma das imagens mais impressionantes do Museu da Bomba Atômica de Nagasaki é a réplica em tamanho real da fachada semidestruída da igreja católica de Urakami, construída pelos católicos portugueses em 1873, quando retornaram à região após serem banidos do país pelo governo japonês em 1639. Urakami, aliás, era na época da bomba o bairro cristão da cidade, onde havia grande influência de Portugal, cuja primeira embarcação chegou a Nagasaki em 1550 proveniente de Macau, na China.

Poucos brasileiros sabem que o primeiro contato do Japão com a cultura européia aconteceu em 1543, quando uma embarcação portuguesa aportou na região de Kagoshima, no sul do país. Em 1567, o missionário Luis de Almeida chegou a Nagasaki com o propósito de catequizar os japoneses e, assim, o catolicismo acabou transformando a cidade, na época conhecida como ¿pequena Roma¿.

Este passado cristão pode ser comprovado ainda hoje em Nagasaki, repleta de igrejas e de freiras caminhando pelas ruas. Mas a história da reconstrução da cidade após a bomba atômica mostra um racha entre a comunidade católica japonesa e as comunidades de outras religiões. Muitos, por exemplo, queriam manter as ruínas de Urakami como um símbolo da destruição da bomba, mais ou menos como o prédio de promoção industrial de Hiroshima, a Cúpula de Bomba Atômica.

Igreja foi derrubada em 1958 e reconstruída em 1980

Mas os japoneses de outras religiões impediram esses esforços, pois não queriam que os monumentos da bomba fossem monumentos religiosos, apesar dos esforços das autoridades municipais para manter as ruínas da igreja. O resultado é que a igreja foi derrubada em 1958 e reconstruída em 1980. Apenas um dos pilares originais se encontra hoje ao lado do monumento no epicentro da explosão, com imagens de São Francisco Xavier no topo. E uma réplica da entrada sul da igreja parcialmente destruída encontra-se hoje no Museu da Bomba Atômica de Nagasaki. (G.S.J.)