Título: João Paulo Cunha pode ser próximo a renunciar, avaliam parlamentares
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 02/08/2005, O País, p. 4

Sandro Mabel, líder do PL, já havia discutido sua saída mas voltou atrás

BRASÍLIA. A renúncia do deputado Valdemar Costa Neto (PL-SP) abriu no Congresso o debate sobre os deputados que também deverão renunciar a seus mandatos por causa do escândalo do mensalão. A avaliação entre parlamentares de todos os partidos é de que o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara, pode ser um dos próximos a renunciar. O próprio João Paulo chegou a discutir o tema com petistas próximos nos últimos dias e, segundo esses interlocutores, estaria disposto a entregar o mandato.

¿ Agora, abriu a porteira! ¿ resumiu o líder do PFL, deputado Rodrigo Maia (RJ).

Além de João Paulo, a avaliação na Câmara é que a renúncia pode ser uma solução para todos os deputados que receberam dinheiro do empresário Marcos Valério, acusado de operar o mensalão. Por esse critério, poderiam renunciar, entre outros, os deputados petistas Paulo Rocha (PA), Professor Luizinho (SP), Josias Gomes (BA), o líder do PP, José Janene (PR) e o presidente da legenda, Pedro Corrêa (PE), além do líder do PL, deputado Sandro Mabel (GO). O próprio Mabel chegou a discutir o tema com deputados próximos, mas recuou depois que Valdemar antecipou a renúncia e assumiu sozinho a responsabilidade do PL pelo recebimento dos recursos de Valério.

Severino: questão de foro íntimo

Ontem, o líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), discutiu com o ex-ministro e deputado José Dirceu (PT-SP) as conseqüências da renúncia de Valdemar. Na conversa, Dirceu avaliou que a decisão de presidente do PL não muda o quadro da crise política. Para Chinaglia, ainda é cedo para antecipar se outros parlamentares também vão renunciar.

¿ Temos situações distintas. É cedo para dizer que abriu a porteira ¿ disse Chinaglia.

O presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), foi cauteloso ao comentar a possibilidade de novas renúncias:

¿ É uma questão de foro íntimo, vai de acordo com a consciência de cada um.

Apesar das especulações, os deputados petistas envolvidos com o recebimento de recursos de Marcos Valério negam que vão renunciar o mandato.

¿ Não vou renunciar porque não recebi mensalão. Não entendi o gesto do Valdemar ¿ disse Professor Luizinho.

¿ Não renuncio. Eu fiz apenas um repasse de recursos para o partido no Pará. Não podia imaginar que esse dinheiro era do Marcos Valério. Foi o Delúbio que mandou pegar, pois o diretório do Pará estava com dívidas ¿ afirmou Paulo Rocha.

O deputado João Magno (PT-MG) também negou que pretende renunciar ao mandato. Ele disse ontem que, além dos R$29 mil que recebeu da SMP&B por transferência eletrônica, foi pegar pessoalmente na sede da agência em Belo Horizonte R$21 mil, o que totalizou R$50 mil de doação.

¿ As doações foram feitas em agosto de 2003 para pagar dívidas de campanha. Na ocasião, o Marcos Valério me disse que estava auxiliando vários deputados. Sei que cometi um erro ao pegar dinheiro que não estava contabilizado. Mas não roubei e nem peguei esse dinheiro para enriquecer ¿ defendeu-se João Magno.

Procurados pelo GLOBO, os deputados João Paulo Cunha e José Janene não comentaram a renúncia de Valdemar.