Título: Dirceu e Jefferson se enfrentam hoje na Câmara
Autor: Ilimar Franco e Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 02/08/2005, O País, p. 10

Uma das preocupações do ex-chefe da Casa Civil no depoimento será desfazer a imagem de que mandava no PT

BRASÍLIA. Recluso desde a semana passada, o deputado José Dirceu (PT-SP) avisou aos aliados que não pretende criar atritos desnecessários com a oposição durante seu depoimento de hoje no Conselho de Ética da Câmara. Mas disse que será firme em seu pronunciamento, garantindo que não deixará qualquer pergunta ou dúvida sobre sua conduta sem resposta.

Dirceu não contou nem mesmo aos companheiros de partido sua estratégia de defesa, mas todos que estiveram com ele nas últimas horas estão convencidos de que seus esclarecimentos no Conselho de Ética terão um acentuado viés jurídico.

Uma das preocupações de Dirceu no depoimento é desfazer a imagem de que ele mandava no PT, mesmo depois que veio para o governo, quando não mais era integrante de sua Executiva.

Dirceu tem sido monossilábico ao telefone

O ex-ministro também pretende dar uma nova embalagem a sua participação no governo, alegando que muitas vezes não dava conta de sua tarefas na Casa Civil. Uma tentativa de negar que tenha todos os poderes que lhe foram atribuídos ao longo dos mais de dois anos que esteve à frente da Casa Civil.

Nos últimos dias, Dirceu tem sido monossilábico ao telefone e recusado, gentilmente, quando petistas se prontificam para debater com ele sua defesa no Conselho de Ética.Para se preparar, Dirceu está se reunindo com um pequeno grupo de assessores e com o advogado José Luiz Oliveira Lima.

Dirceu não pretende, por exemplo, polemizar com o presidente licenciado do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ). Mas adiantou que está preparado para ser agressivo caso este tente intimidá-lo.

Fora deste grupo que o está ajudando a preparar sua intervenção no Conselho de Ética, Dirceu só abriu sua agenda para conversar com o Ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner. Este foi até Dirceu dizer que o governo não o considerava uma peça descartável e que não o estava abandonando.

Gustavo Fruet: ¿Ou ele mata ou ele morre¿

Às vésperas do esperado confronto com José Dirceu, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), autor das denúncias de existência de mensalão, passou o dia ontem cantando. Antes, durante parte da semana passada e no fim de semana, ele esteve recolhido em Petrópolis preparando sua atuação de hoje.

Um dos deputados mais próximos de Jefferson, Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) afirmou que, após as denúncias que surgiram no último final de semana e ontem, envolvendo o assessor Roberto Marques e a ex-mulher de Dirceu, o deputado petista ficou numa situação desconfortável.

¿ Ele (Dirceu) terá que baixar a bola ¿ disse Faria de Sá.

O deputado Gustavo Fruet disse que só há duas saídas para o ex-ministro no seu depoimento de hoje.

¿ Ou ele mata ou ele morre. Ou vai para o ataque com todas as armas, ou limita-se a responder as perguntas de forma burocrática. O Zé Dirceu é uma pessoa fria. Frieza talhada na clandestinidade ¿ disse Gustavo Fruet.

Nas cantorias de ontem, para relaxar, Roberto Jefferson não estava acompanhada de uma pianista. Entre as músicas que cantou estão algumas de autoria do compositor mineiro Milton Nascimento e seu parceiro Fernando Brant.

Segundo sua assessoria de imprensa, Jefferson não viu o discurso de renúncia, ontem à tarde, do presidente do PL, deputado Valdemar Costa Neto. Ele tomou conhecimento do discurso por meio de assessores.

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