Título: GENU COMBINOU DEPOIMENTO COM PP
Autor: Jailton de Carvalho e Rodrigo Rangel
Fonte: O Globo, 02/08/2005, O País, p. 12

Estratégia da cúpula é limitar acusações ao partido à esfera de crime eleitoral

BRASÍLIA. O depoimento do assessor parlamentar João Carlos Genu à Polícia Federal, na sexta-feira, foi acertado previamente com a cúpula do PP. Genu é chefe de gabinete do líder do partido na Câmara, José Janene (PR). A estratégia do PP é limitar as acusações ao partido à esfera de crime eleitoral. No depoimento, Genu confirmou que recebeu remessas de dinheiro do empresário Marcos Valério de Souza para o PP e repassou-as a dirigentes do partido. Além de Janene, ele citou o presidente do PP, deputado Pedro Corrêa (PE) e o ex-líder da bancada deputado Pedro Henry (MT).

Segundo parlamentares do PP, o acerto entre Genu e Janene foi feito há duas semanas. Eles tiveram um encontro no apartamento do líder do PP, apelidado pelos colegas de bancada como "pensão do Janene". Nessa conversa, Genu pediu orientação e Janene foi direto:

¿ Você não tem que ter medo. Fale que você cumpriu ordens na função de meu assessor. O dinheiro não era para você.

Foi exatamente o que Genu fez no depoimento à PF. A defesa do PP vai insistir na tese de que Genu enviava o dinheiro para a sede do partido, uma evidência de que era um acerto com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, para pagar dívidas de campanha. Os advogados do PP também devem usar o mesmo argumento de Delúbio de que era dinheiro não contabilizado na receita oficial.

Estratégia do PP é centrar fogo em três deputados

A estratégia do PP também foi de centrar fogo exclusivamente em Janene, Corrêa e Henry. Com isso, todos os outros integrantes do partido serão preservados, inclusive o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE).

O assessor parlamentar confirmou que foi diversas vezes à agência do Rural em Brasília para buscar dinheiro remetido de Belo Horizonte por empresas de Valério. Segundo ele, o dinheiro era empacotado em envelopes e levados para a tesouraria do PP, no 17º andar do anexo II do Senado, em malas. Até então, a CPI tinha a informação de que o dinheiro era entregue no apartamento de Janene. A versão de Genu tira do foco as denúncias de que Janene operava o mensalão em casa.

Pelos dados da CPI dos Correios, Genu fez pelo menos cinco saques na agência do Rural no valor total de R$1,125 milhão entre setembro de 2003 e janeiro de 2004.