Título: ATRÁS DO EQUILÍBRIO
Autor:
Fonte: O Globo, 03/08/2005, Opinião, p. 6

As exportações brasileiras continuam em rota de crescimento, batendo sucessivos recordes, embora o atual patamar do câmbio já não estimule alguns segmentos da economia a ampliar suas vendas para o exterior. Esse comportamento espetacular das exportações é explicado em parte pelo impulso que China, Estados Unidos e outros países têm dado ao comércio internacional. No entanto, tal demanda não poderia ser atendida se o sistema produtivo brasileiro não tivesse passado por mudanças estruturais importantes, que tornaram alguns setores extremamente competitivos e menos dependentes da muleta do câmbio depreciado.

É o caso do agronegócio ¿ o Brasil assumiu a liderança das exportações de carne, por exemplo ¿ dos minérios, da metalurgia e do petróleo.

Os resultados das exportações, que se refletem sobre o conjunto das contas externas do país, reduziram a dependência do Brasil em relação a financiamentos em moeda estrangeira, e desse modo a economia ficou menos vulnerável a crises como as que ocorreram na década passada e em 2002/2003.

É válida a preocupação de que o câmbio não sofra uma apreciação que inviabilize a continuidade do crescimento das exportações. Porém, há que se considerar que o câmbio deve refletir certas condições de mercado. Uma apreciação mais forte do real estimularia atualmente importações, antecipação de pagamentos de dívidas externas, remessas de lucros, viagens internacionais e compras do Banco Central para reforço das reservas cambiais do país.

O câmbio depreciado, por sua vez, dificulta o combate à inflação e também causa desequilíbrios econômicos e sociais tão sérios quanto a apreciação. O que se deve buscar é o equilíbrio; e intervenções artificiais no mercado, como o controle na entrada de capitais, não se constituem no melhor caminho para isso, como demonstra a experiência do passado.

Se decisões de política econômica estariam contribuindo para atrair capitais nômades, indesejáveis ao país, que isso então seja reavaliado pelas autoridades. O que não se pode é tentar corrigir um erro com outro erro, e a emenda ficar pior que o soneto.