Título: ESQUERDA DO PT FORMALIZA DISSIDÊNCIA
Autor: Tatiana Farah
Fonte: O Globo, 03/08/2005, O País, p. 15

PT Livre é criado com 21 integrantes e deixará cargos no Congresso

BRASÍLIA. Parlamentares da ala esquerda do PT formalizaram ontem a criação de um grupo dissidente chamado PT Livre, com 21 integrantes. Eles não vão mais aceitar a orientação do partido nas votações no Congresso e nem participarão de reuniões de bancada. A primeira proposta do grupo é que qualquer parlamentar petista que renuncie ao mandato para se livrar da cassação dos direitos políticos não tenha legenda para disputar as eleições em 2006.

Para garantir a independência, os integrantes do grupo deverão deixar cargos ou funções da cota do PT que exercem no Congresso. É o que fará, por exemplo, um dos líderes do movimento, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ). Ele afirmou que se sente traído pelos dirigentes do PT que levaram o partido a atual situação:

¿ Revelou-se um impressionante esquema de corrupção, envolvendo diversos partidos, comandado, lamentavelmente, por dirigentes do PT, que foi atingido em seu patrimônio ético de forma irreversível. O PT, que era o símbolo da ética, hoje é considerado o partido da corrupção ¿ discursou.

Deputado diz que renúncia contraria ideais do partido

O grupo irá propor na reunião da executiva nacional, no fim de semana, que o PT negue legenda a quem renunciar.

¿ Não acredito que alguém do PT renuncie. Isso nunca ocorreu no partido. Se alguém fizer isso não deve ter legenda para se candidatar no ano que vem. Fazer isso é apostar na falta de memória do povo. Nós do partido sempre condenamos renúncias como as de Jader Barbalho e Antônio Carlos Magalhães. A renúncia só é valida como opção para abandono da vida pública e não como expediente e prática eleitoreira ¿ afirmou o deputado Chico Alencar (RJ).

¿ A decisão de criamos a dissidência teve início com a inflexão mais à direita do governo. O presidente Lula despetizou seu Ministério e deu mais cargos para PMDB e PP. Pesou também o envolvimento do Campo Majoritário (tendência que tem a maioria no partido) no atual escândalo. Temos razões políticas, ideológicas e éticas ¿ afirmou João Alfredo (CE).