Título: TARSO: PETISTA QUE RENUNCIAR NÃO DEVE PODER SE CANDIDATAR
Autor: Tatiana Farah
Fonte: O Globo, 03/08/2005, O País, p. 15

Presidente do PT avalia que expediente para fugir da cassação pode piorar imagem do partido junto à população

SÃO PAULO e BRASÍLIA. O presidente do PT nacional, Tarso Genro, defendeu ontem que os deputados federais petistas que renunciarem ao mandato sob suspeita de participar do esquema de caixa dois que envolve o publicitário Marcos Valério sejam impedidos de concorrer às próximas eleições pelo partido.

¿ Se um companheiro meu, deputado federal, apresentar sua renúncia neste momento, sou favorável a que isso também seja considerado uma renúncia a sua candidatura no próximo pleito. Vou defender isso nos órgãos partidários. Creio que o PT teria essa postura ¿ disse Tarso.

A preocupação dele é que manobras de deputados, que ao renunciar escapem de cassação e estejam aptos a concorrer às eleições, possam piorar a imagem do partido perante a opinião pública.

¿ A população pode entender que isso é uma saída para depois ser candidato e daí piora a situação. Mas se a pessoa diz: ¿Não, eu quero renunciar porque eu quero me excluir da vida pública por dez anos, porque estou me aplicando essa autopunição¿, isso pode ser considerado um gesto positivo pela população¿ disse o presidente do PT.

Perguntado se renunciaria, Tarso disse:

¿ Eu? Não. A não ser que eu fizesse uma confissão total de responsabilidade.

Defesa do afastamento de Delúbio Soares do partido

O presidente petista disse que já foi elaborada uma notificação para 15 parlamentares citados nas denúncias de irregularidades, pedindo que façam um relatório sobre o ocorrido. Mas o envio da notificação ainda deverá ser aprovado pela executiva do partido, que se reúne amanhã. Tarso deu a entender que defenderá também, caso o pedido seja apresentado por algum dirigente, o afastamento de Delúbio Soares do partido enquanto corre seu processo na Comissão de Ética do PT.

Na última reunião da executiva, ele votou contra o Campo Majoritário, grupo do qual faz parte e é candidato a presidente, e ficou ao lado da esquerda. Embora diga que o partido evite o julgamento sumário, Tarso informou que, em duas reuniões, a Comissão de Ética pode concluir pela expulsão de um dirigente. O único dirigente hoje questionado pela Comissão é o ex-tesoureiro.

Em sua primeira entrevista coletiva como presidente do PT e não mais como ministro da Educação, Tarso Genro admitiu que as irregularidades contaminam as estruturas do Estado.

¿ Se a pergunta é ¿há sinais evidentes de um processo de ilegalidade na questão do financiamento e de relação desse financiamento com órgão do Estado?¿, na minha opinião, existem sinais evidentes. Estou convencido.

¿Existe uma estrutura paralela de financiamento¿

O ex-ministro citou como exemplo as denúncias já comprovadas de corrupção nos Correios. Ele disse ter recebido sem surpresa a nova lista divulgada por Simone Vasconcelos, gerente financeira da SMP&B, uma das agências de Marcos Valério, à Polícia Federal. Na lista constam informações como a distribuição de recursos, todos em 2003, para o deputado Paulo Rocha (PT-PA) R$920 mil; José Nobre Guimarães (PT-CE) R$250 mil; Diretório Regional do Rio Grande do Sul, R$1,2 milhão, e para a sócia do publicitário Duda Mendonça, Zilmar Fernandes da Silveira, R$15,5 milhões.

¿ Está demonstrado que existe uma estrutura paralela de financiamento, com capilaridade nacional e isso está sendo revelado com mais precisão e outras informações ainda vão circular¿ disse o presidente.

(*) Especial para O GLOBO