Título: Mercado reage bem ao depoimento de Dirceu
Autor: Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 03/08/2005, Economia, p. 27

Ibovespa tem alta de 1,87%; dólar recua 1,13% e fecha a R$2,342. Risco-país fica abaixo de 400 pontos

O mercado financeiro manteve ontem durante todo o período de negociações um surpreendente otimismo para um dia que prometia ser de confronto entre os deputados José Dirceu e Roberto Jefferson, no depoimento do ex-ministro no Conselho de Ética da Câmara. Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o número de ordens de compra de ações já estava alto e aumentou após o início do depoimento de Dirceu, fazendo o Ibovespa, principal índice da Bolsa, pular para os 26.788 pontos e subir 1,87% no fechamento. O dólar teve queda de 1,13%, a sexta consecutiva, e fechou a R$2,342.

Nos dias que antecederam o depoimento, parte do mercado temia que Dirceu fizesse alguma revelação que incluísse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no escândalo do mensalão. Mas, já no início de seu depoimento, o ex-ministro negou haver qualquer ressentimento em relação a Lula e garantiu que não renunciaria, rumor que circulou com força ontem no mercado. Além disso, travou com Jefferson uma batalha considerada equilibrada pelos analistas.

Bolsa chegou à máxima durante depoimento

Pressentindo que não haveria novidades no front político, os investidores voltaram a olhar para os fundamentos da economia e a escolher as ações que nos últimos dias haviam sido mais afetadas pela instabilidade política e, com isso, sofrido maior queda nos preços. A Bolsa atingiu a máxima do dia durante o depoimento de Dirceu, ao avançar 1,95% e romper os 26.800 pontos, antes de retroceder um pouco até o fechamento.

¿ O mercado parece apostar na proximidade do fim da grande tensão política, ainda que as investigações prossigam e haja renúncias ou cassações de mandatos. O fato de não existir denúncia que envolva o presidente Lula faz o mercado agora rever o excesso de pessimismo das últimas semanas. Isso permite que a Bovespa acompanhe mais de perto o bom comportamento das bolsas mundiais ¿ disse o economista Alexandre Maia, da Gap Asset Management.

Ontem, 46 ações do Ibovespa fecharam em alta, duas estáveis e sete em baixa. As compras se concentraram em papéis de bancos, siderúrgicas e do setor de energia. No caso dos bancos, a influência veio da expectativa de bons resultados corporativos, especialmente após o lucro do Itaú no primeiro semestre (R$2,47 bilhões, o maior da história do setor). As ações do Bradesco (PN, preferenciais, sem direito a voto) subiram ontem 6,11% e as do Unibanco, 5,33%. Os papéis do Itaú subiram 3,34% (PN).

¿ Após o lucro do Itaú, o mercado abriu os olhos para outros resultados bastante positivos que estão a caminho, independentemente da crise política ¿ disse um diretor de uma gestora de recursos independente.

O grupo que destoou do dia positivo da Bolsa foram as ações de telecomunicações, afetadas pela decisão da Justiça de proibir a cobrança da assinatura básica em todo o país. Para o mercado, isso pode afetar duramente o resultado das companhias, e muitos investidores preferiram vender as ações. Os papéis PN da Telemar fecharam entre as maiores baixas do Ibovespa, com perda de 0,64%.

Fluxo positivo neutraliza efeitos da crise política

Na avaliação de Avelino Gonçalves de Almeida, sócio da empresa de gestão Lógica do Mercado, foi muito positivo o fato de a Bolsa ter rompido 26.800 pontos na máxima do dia. Isso porque, se a Bolsa conseguir fechar com variação positiva na semana, superando esse patamar, deverá perseguir os 30 mil pontos.

Já no mercado de câmbio, a entrada de recursos no país continuou a neutralizar o impacto da crise política.

¿ O fluxo continua a ser positivo e o mercado, apesar da volátil, mantém uma tendência de baixa, parecendo crer num desfecho mais rápido da crise ¿ disse o operador Hideaki Iha, da corretora de câmbio Souza Barros.

O risco-Brasil, que mede o nível de confiança dos investidores estrangeiros, fechou ontem em queda de 1,26%, aos 392 pontos centesimais, o melhor resultado desde o dia 9 de março, de 386 pontos.