Título: BLAIR TELEFONA A LULA E LAMENTA MORTE DE JEAN CHARLES
Autor: Cristiane Jungblut e Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 03/08/2005, O Mundo, p. 32

Advogada critica visita de autoridades da polícia britânica aos pais do brasileiro e apressa viagem ao país

BRASÍLIA e LONDRES. O primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, telefonou ontem de manhã para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para manifestar pesar pela morte do brasileiro Jean Charles de Menezes. Em conversa de dez minutos, Blair teria pedido desculpas pelo assassinato do brasileiro, confundido com um terrorista e morto pela polícia britânica na estação de metrô de Stockwell, em Londres, no último dia 22.

Segundo nota do Palácio do Planalto, Lula disse a Blair que é preciso evitar que situações semelhantes aconteçam, ¿provocando a morte de pessoas inocentes¿, mas ressaltou que compreende as dificuldades vividas pelo Reino Unido. Já Blair explicou a Lula que seu país está ¿passando por momentos difíceis em decorrência de atos terroristas¿ e ressaltou que uma comissão independente está apurando as circunstâncias da morte do brasileiro.

Viajou ontem à noite para o Brasil a advogada Harriet Wistich, principal assistente de Gareth Peirce, representante legal da família de Jean Charles. Hoje, ela deverá se encontrar em Gonzaga, Minas Gerais, com parentes do brasileiro. A visita seria feita por Peirce, mas foi antecipada pelo que Wistich classificou de atitude suspeita da polícia de Londres: um encontro do subcomissário, Paul Yates, com a mãe e o pai de Jean Charles, terça-feira. Yates teria oferecido a eles uma indenização preliminar pelo assassinato.

Wistich disse ao GLOBO que a polícia não informara os advogados sobre a visita a Gonzaga, o que a preocupava. Segundo ela, o comportamento das autoridades de segurança levanta dúvidas, foi bizarro e, no mínimo, descortês com outras partes envolvidas no caso, além de desrespeitoso com a família de Jean Charles num momento de tristeza.

¿ A polícia já não vinha agindo de acordo com o manual de instruções nesse caso desde a divulgação de detalhes sobre a operação em Stockwell. Por mais que tenha sido importante um pedido de desculpas e algum tipo de oferecimento de ajuda financeira, a família já havia dito que não pretendia discutir a indenização num momento em que precisa de tempo para assimilar tudo o que aconteceu. Não me parece certo que representantes legais dos parentes de Menezes sejam os últimos a serem notificados de um encontro como o de terça-feira ¿ disse a advogada.

Diretor da campanha pró-Jean também critica a polícia

Menos ponderado, o muçulmano Asad Rehman, diretor da campanha Jean Charles de Menezes Memorial, disse que a polícia está dando margem à interpretação de que tenta comprar uma saída para a crise:

¿ Subitamente, um subcomissário aparece no Brasil. Esperamos que tenha sido apenas um procedimento desastrado da polícia, e não uma tentativa de limitar danos feita à revelia dos representantes legais da família.

Um incêndio num ônibus assustou ontem londrinos, mas foi acidental.

* Correspondente

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