Título: PAPEL DA IMPRENSA
Autor: Letícia Lins
Fonte: O Globo, 04/08/2005, O País, p. 8

MAIS UMA vez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva repete que a imprensa terá de pedir desculpas aos que forem declarados inocentes ao fim das investigações. Ao dizer isso, Lula parece não entender o papel da imprensa.

SEMPRE É bom lembrar a origem da crise que o governo Lula enfrenta. Um funcionário dos Correios foi flagrado em vídeo aceitando propina e relatando um grande esquema de corrupção naquela estatal. Depois disso, um ex-aliado, a quem o presidente chamava de parceiro, denunciou o pagamento de propinas a deputados para que votassem no Congresso a favor do governo.

A PARTIR daí, as investigações revelaram nomes, valores e procedimentos ilegais, envolvendo o PT, partido do presidente, e outras legendas aliadas. Há muito ainda o que apurar.

O PAPEL da imprensa é divulgar as investigações e, quando possível, se antecipar a elas, revelando o que descobriu com seu esforço próprio, sempre depois de uma minuciosa checagem dos dados.

SE À IMPRENSA não cabe prejulgar, isso significa exatamente não declarar ninguém a priori culpado ou inocente, mas divulgar criteriosamente tudo o que for fato para que as investigações possam dizer quem é um, quem é outro. Culpados e inocentes, todos têm espaço assegurado para se explicar, embora poucos queiram fazê-lo.

ATÉ AQUI, a imprensa tem cumprido com vigor o seu papel, honrando o seu compromisso de bem informar. Não nos cabe dizer se há alguém que deva pedir desculpas, mas, se há, certamente não é a imprensa.

RECLAMAR DELA, hoje, é como reclamar do espelho.