Título: PT tenta negar, mas Junqueira confirma saques
Autor: Soraya Aggege e Tatiana Farah
Fonte: O Globo, 04/08/2005, O País, p. 12

Sócio de ex-procurador-geral da República admite que recebeu R$500 mil para defender o partido em Santo André

SÃO PAULO. Os gastos do PT com honorários do escritório Junqueira Alvarenga e Fonseca foram pagos pelo publicitário Marcos Valério. O contrato principal, de R$500 mil, cobriu uma consultoria para a defesa do PT no caso Celso Daniel, prefeito de Santo André, assassinado em 2002. Há também outros processos, de aproximadamente R$40 mil, como interpelações do ex-tesoureiro Delúbio Soares contra o sociólogo Francisco de Oliveira e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), por difamação, e até ações para defender outros petistas, como a ex-senadora Emília Fernandes, no caso das loterias do Rio Grande do Sul, e o ex-ministro Olívio Dutra (Cidades) por um litígio eleitoral no mesmo estado.

¿ Eu mesmo fui ao Banco Rural sacar os nossos pagamentos. Foram cinco parcelas, se não me engano, pagas com atraso de um ano ¿ disse o gerente e sócio do escritório, advogado Pedro Raphael Campos Fonseca.

O advogado afirmou que ele e seu sócio, Aristides Junqueira, ex-procurador-geral da República, não sabiam que o dinheiro era de Valério.

¿ Fizemos o contrato com o Paulo Frateschi (presidente do PT paulista) em 2002. Ele não pagou e eu cobrei do Delúbio. Ele me disse que uma tal Simone me ligaria para pagar. Pensei que a Simone fosse secretária do Delúbio. Ela me ligou e disse para sacar o dinheiro no Rural ¿ contou Fonseca, alegando não saber que se tratava de Simone Vasconcelos, diretora da SMP&B, de Valério.

De acordo com Fonseca, os recibos foram emitidos para o Diretório Nacional do PT. Frateschi tentou negar o contrato com o escritório. O tesoureiro do PT estadual, Danilo Camargo, chegou a insinuar que o escritório estaria tentando usar o PT para justificar seus saques no Banco Rural.

¿ Não houve pagamento feito pelo Diretório Estadual. Esse pagamento pode ser de outra coisa. Desse contrato não é ¿ afirmou.

Frateschi divulgou nota, alegando que já considerava nulo o contrato, assinado em 2002, porque os advogados não teriam dado satisfações de seus serviços.

¿ Eu não sou político, nem moleque. Não sabíamos que o dinheiro viria do Marcos Valério e estamos sofrendo as consequências disso, sem dever nada, graças ao senhor Delúbio. Agora, se o PT está com problemas de memória, poderemos nos reunir com os dirigentes para lembrá-los dos serviços que prestamos¿ disse Fonseca.

Segundo ele, o contrato foi assinado com o PT de São Paulo, mas os pagamentos foram assumidos pela direção nacional, que usava mais os serviços da consultoria para o caso de Santo André. Em nota divulgada no final da tarde, o escritório afirmou que os serviços de Santo André foram prestados entre setembro de 2002 e junho de 2005. ¿Estes serviços englobam tanto o contrato formalmente assinado e remunerado (Santo André), como também outros serviços jurídicos e forenses¿, diz a nota. O secretário-geral do partido, deputado Ricardo Berzoini, disse que procurou registros formais dos pagamentos no partido e não encontrou.

¿ Pedi um levantamento completo sobre contratos ou pagamentos nas anotações do partido, já que não foi contabilizado. Parece mais um episódio que escapou do controle da direção do PT e mais uma surpresa para nós ¿ disse Berzoini.

Promotoria quer reabertura do caso Celso Daniel

A Promotoria Criminal de Santo André, que investiga o seqüestro e morte do ex-prefeito Celso Daniel (PT), em janeiro de 2002, defendeu ontem a reabertura das investigações sobre o ex-ministro José Dirceu. O Supremo Tribunal Federal (STF) arquivou em julho de 2002 o pedido de instauração de inquérito para investigar Dirceu, considerando que o petista não estaria envolvido no esquema de arrecadação de propinas no ABC ¿ que, segundo a Promotoria, teria provocado a morte de Daniel. Para o promotor Roberto Wider, o fato de o advogado responsável pela defesa do PT no caso, José Aristides Junqueira, ter sido pago por Valério mostra a ligação de Dirceu no esquema de corrupção na cidade.

O irmão de Celso Daniel, o médico João Francisco Daniel, disse em depoimento ao Ministério Público que Dirceu era a pessoa responsável por receber a propina arrecadada com donos de empresas de ônibus. O dinheiro serviria para abastecer campanhas do PT.

¿ Este (o pagamento de Valério a Junqueira) é um indício grave de que o dinheiro da corrupção serviria para alimentar o esquema de Valério ¿ afirmou o promotor.

COLABOROU Flávio Freire