Título: Juros altos travam emprego
Autor: Luciana Rodrigues e Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 04/08/2005, Economia, p. 29

Nobel de Economia critica FMI por incentivar o `foco exclusivamente na inflação¿

Oeconomista americano Joseph Stiglitz, professor da Universidade de Columbia e Prêmio Nobel de Economia de 2001, afirmou ontem que os ¿juros altos do Brasil são o obstáculo à criação de empregos no país¿. Stiglitz esteve no Rio ontem para um seminário sobre Desenvolvimento Econômico e Eqüidade Social, promovido pelo Fórum de Diálogo Índia, África do Sul e Brasil. Perguntado pelo ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, sobre a eficácia dos programas de transferência de renda, Stiglitz afirmou que os maiores responsáveis pelo baixo crescimento econômico e pelo desemprego são as políticas macroeconômicas inadequadas, e criticou duramente os juros altos do Brasil.

¿ Vocês têm uma taxa de juros reais (descontada a inflação) que é uma das maiores do mundo. Há muito a ser feito em termos de política macroeconômica ¿ disse Stiglitz.

Ele acrescentou que, a curto prazo, os programas de transferência de renda são importantes para atender à parcela da população que, mesmo num ambiente de geração de empregos, não teria qualificação suficiente para entrar no mercado de trabalho. Patrus Ananias foi cuidadoso ao comentar as críticas do Nobel de Economia ao BC brasileiro. Ele citou uma frase do escritor João Guimarães Rosa em ¿Grande Sertão, Veredas¿ em resposta ao economista:

¿ Teoricamente todo mundo gostaria de baixar juros e superávit (primário), reduzir a dívida e ter mais recursos para investimentos na área social e na infra-estrutura, que também gera empregos. Agora, existe uma frase do Guimarães Rosa que diz mais ou menos o seguinte: ¿Querer o bem com demais força e incerto jeito já é principiar por querer o mal¿. É isso: todos queremos o ótimo, mas não vivemos no reino dos céus. As coisas têm o seu preço.

Embora tenha relativizado a declaração de Stiglitz para evitar se contrapor à equipe econômica, elogiou a intervenção do economista:

¿ Por outro lado, achei muito boa a intervenção dele, porque é claro que nós todos, as pessoas razoáveis, queremos trabalho, emprego.

Defesa do controle do capital volátil

Na palestra para cerca de 200 técnicos dos governos de Índia, Brasil e África do Sul, cujo tema era o diálogo entre países em desenvolvimento do Hemisfério Sul, Stiglitz criticou a preocupação excessiva com a inflação nas políticas recomendadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

¿ Não está havendo uma discussão sobre o perigo do desemprego, sobre os seus custos sociais ¿ disse o economista, para em seguida completar ¿ O BC dos EUA tem como foco não só a inflação mas também a geração de empregos. Se isso é correto, por que o FMI tem incentivado a visão de que a boa política deve ter como foco exclusivamente a inflação?

Um dos mais fervorosos críticos do Consenso de Washington, Stiglitz destacou que, na lista de recomendações propostas por essa corrente de economistas à América Latina no início dos anos 90, sequer constava a questão da eqüidade social. Para Stiglitz, a busca por igualdade na distribuição de renda deve ser encarada não apenas como um fim em si mesmo, mas também como um meio para alcançar o crescimento econômico.

¿ Hoje há consenso sobre o fracasso do Consenso de Washington.

Stiglitz também sugeriu aos países em desenvolvimento que refutem o receituário do FMI sobre liberalização dos mercados de capitais, e defendeu controles no fluxo de investimentos de curto prazo.

¿ A entrada desses capitais não promove crescimento. Não se pode construir fábricas com o dinheiro que entra e sai de um dia para o outro.

Stiglitz comemorou a aproximação entre os países do Sul e defendeu que essas nações superem seus conflitos de interesse para manterem uma posição única na Organização Mundial do Comércio (OMC). Caso contrário, alertou, a nova rodada de abertura comercial atenderá só a objetivos dos países ricos.

¿ Logo após a Rodada do Uruguai (última grande negociação multilateral ocorrida), as tarifas que os países desenvolvidos mantinham com os pobres eram quatro vezes maiores do que as que cobravam entre si. Acredito que um não-acordo (ou seja, um fracasso nas negociações da atual Rodada de Doha) é melhor do que um acordo injusto para o comércio.

JURO ALTO FAZ CEPAL REDUZIR EXPANSÃO DO PAÍS , na página 30