Título: Dólar cai 1,3% e tem menor cotação desde 2002
Autor: Paula Dias
Fonte: O Globo, 04/08/2005, Economia, p. 31

Moeda fecha a R$2,311, com fluxo positivo de recursos no país. Ações de telecomunicações fazem Bolsa cair 0,28%

SÃO PAULO. O dólar à vista emplacou ontem sua sétima queda consecutiva e fechou em baixa de 1,32%, a R$2,311, a menor cotação desde 12 de abril de 2002. O mercado de câmbio ignorou o cenário político e voltou as atenções para fatores econômicos, como os sucessivos superávits da balança comercial. Apesar de o dólar ter caído também frente a outras moedas importantes no mundo, como euro, franco suíço e libra, a desvalorização no Brasil foi atribuída também à entrada de recursos externos no país.

¿ O mercado está vivendo um paraíso econômico, em meio a um inferno político ¿ resumiu Mário Battistel, diretor de câmbio da corretora Novação.

Segundo ele, os investidores passaram a dar menor importância à cena política à medida que aumentaram os sinais de que a economia não vai mudar.

Dados divulgados ontem pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) mostram o nível desse otimismo. Em julho, o fluxo de recursos estrangeiros na bolsa ficou positivo em R$2,508 bilhões, a segunda melhor marca do ano. A maior foi em fevereiro, quando o saldo foi de R$3,702 bilhões. No acumulado do ano, o saldo está positivo em R$3,007 bilhões.

Risco-Brasil cai 1,02%, para 388 pontos centesimais

Ontem, porém, o desempenho negativo das ações do setor de telecomunicações levou a Bovespa a fechar em baixa de 0,28%, depois de ter subido quase 2% durante o dia. O Índice de Telecomunicações (Itelecom) caiu 1,30% e arrastou o restante do mercado para um movimento de embolso de lucros. As ações ON (ordinárias, com direito a voto) da Telemar tiveram desvalorização de 3,36% e foi a principal queda no grupo.

O motivo foi a decisão judicial que, na última segunda-feira, suspendeu a assinatura básica da telefonia fixa. Também foram atingidas as ações de Brasil Telecom e Telefônica (Telesp). Além disso, fundos estariam reduzindo o peso das ¿teles¿ em suas carteiras.

As projeções dos juros, negociadas no mercado futuro, fecharam em baixa, apesar de um pequeno repique de inflação registrado pelo IPC da Fipe. O índice fechado de julho apontou alta de preços de 0,30%, contra uma deflação de 0,20% do mês anterior. A taxa ficou acima do esperado. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o índice do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2007, o mais negociado, caiu de 17,84% para 17,68% ao ano.

No mercado externo, o risco-Brasil caiu 1,02%, para 388 pontos centesimais. Já o Global 40, título brasileiro mais negociado no exterior, teve alta de 0,67%, cotado a 118,50% do valor de face, beneficiado pela queda nos juros pagos pelos títulos do Tesouro americano (as treasuries) com vencimento em dez anos.

O governo dos Estados Unidos informou ontem que vai relançar em 2006 os títulos de 30 anos, para ajudar a financiar a dívida interna, hoje em US$7,8 trilhões. O papel de 30 anos parou de ser vendido em outubro de 2001, último ano em que os EUA obtiveram superávit.

Ontem, o euro fechou a US$1,23, a maior cotação frente ao dólar nos últimos dois meses e em alta de 1,1% em relação ao dia anterior. A libra teve alta de 0,33% e encerrou em US$ 1,7768. Para analistas, a queda do dólar no mundo aconteceu porque, com os recordes da cotação do barril de petróleo nos três últimos dias, investidores estão procurando diversificar aplicações e buscando outras moedas, além da americana.