Título: TENHO CONVICÇÃO QUE LULA NÃO SABIA DE NADA¿
Autor: Lydia Medeiros e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 05/08/2005, O País, p. 3

Jefferson inocenta presidente e bota culpa por esquema do mensalão em José Dirceu

BRASÍLIA. Dois dias depois de insinuar a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reuniões que trataram de negociações do esquema do mensalão, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) mudou de tom e o isentou ontem de qualquer conhecimento dos fatos. Jefferson depôs na CPI do Mensalão por mais de nove horas. Por diversas vezes reiterou que Lula não sabia nada sobre as articulações, segundo ele, comandadas pelo ex-chefe da Casa Civil José Dirceu.

¿ Tenho absoluta convicção de que o presidente Lula não sabia de nada ¿ afirmou Jefferson. ¿ Recebo cobrança de pessoas, amigos e parentes para que eu ataque o presidente. Mas não posso fazer isso porque não tenho elementos. Ele é íntegro e inocente.

Jefferson diz que Lula não estava em reunião em janeiro

Ao deputado José Rocha (PFL-BA), Jefferson assegurou que o presidente não estava presente na reunião em que Dirceu, como ministro, em janeiro, sugeriu que ele ¿credenciasse um representante do PTB¿ para ir a Portugal com o então tesoureiro do PT Delúbio Soares e com o empresário Marcos Valério de Souza. Jefferson voltou a falar das denúncias sobre a negociação com a Portugal Telecom. E acrescentou que as viagens a Lisboa eram freqüentes.

¿ Delúbio, Valério e seu sócio Rogério Tolentino estavam sempre em Portugal ¿ disse o petebista.

Jefferson reiterou as denúncias de pagamento de mesadas a deputados. Segundo ele, dirigentes do PP e do PL recebiam de Valério e distribuíam para alguns deputados da bancada.

O petebista deixou claro que foi em conseqüência de uma briga com Dirceu que tomou a decisão de contar o que sabia. Segundo ele, depois de informar a Lula sobre o mensalão, Dirceu passou a persegui-lo. Ele disse que o mensalão foi a estratégia montada pelo PT para ¿alijar a burguesia corrupta do poder¿.

¿ O PT não quis repartir poder com a burguesia que julgava corrupta e prostituta, que poderia alugar.

No depoimento, seu principal alvo foi Dirceu, a quem chamou novamente de chefe da quadrilha. De acordo com Jefferson, o ex-chefe da Casa Civil afirmou que recebera executivos da Portugal Telecom e que surgira uma oportunidade de obter recursos que saldariam dívidas de campanha do PT e do PTB. A conta, feita mais tarde, era a de conseguir cerca de oito milhões de euros, ou R$12 milhões para cada partido. Jefferson enviou o tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri, na viagem.

¿ Lula não estava presente e não sei se sabia do encontro. Se minha colocação fez suspeitar o envolvimento dele, não fui claro.

Em um outro momento, perguntado pelo deputado João Correia (AC) se Lula pode ter sido induzido por Dirceu a um erro que pudesse beneficiar Valério, mais uma vez Jefferson não apenas confirmou a hipótese, como livrou o presidente de responsabilidade e cobriu-o de elogios. E arriscou uma comparação:

¿ O presidente é meio parecido comigo. Mata no peito os amigos, não abandona cadáveres ¿ disse, com um exemplo, citando o ex-ministro Luiz Gushiken, acusado por ele de controlar um esquema com os fundos de pensão, de como Lula trata os amigos ¿ Gushiken, sei que você errou, mas boto a mão na tua cabeça, japoronga.

Gushiken divulgou nota onde considerou "inaceitáveis o teor leviano e o tom de calúnia" das afirmações do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que ele estavam envolvido em negociações entre fundos de pensão e Portugal Telecom. "São falsas as insinuações e ilações a respeito do meu papel junto aos fundos de pensão, que obedecem a marcos regulatórios específicos e estão submetidos a amplo leque de instituições de fiscalização e controle", diz Gushiken, na nota.