Título: As contradições do acusador
Autor: Lydia Medeiros e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 05/08/2005, O País, p. 3

Jefferson não consegue explicar evidências de que PTB teria recebido mensalão

Apesar de negar mais vez que o PTB tenha recebido mesadas do PT em troca de votos, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) deixou dúvidas durante seu depoimento ontem na CPI do Mensalão. Ele confirmou a denúncia de que dirigentes do PL e do PP receberam dinheiro do ex-tesoureiro Delúbio Soares, por intermédio do empresário Marcos Valério, como forma de manter a aliança com o governo. Jefferson admitiu que o PTB recebeu recursos, mas afirmou que se destinavam a outro fim: liquidar dívidas de campanha, exatamente o mesmo discurso usado por quase todos os acusados de sacar nas contas de Valério. Jefferson entrou em contradição várias vezes ao longo do depoimento.

Jefferson disse que o PTB recebeu R$1 milhão, no início de agosto de 2003. O dinheiro, contou, foi negociado entre o então presidente do partido José Carlos Martinez, já falecido, e o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares. Segundo Jefferson, destinava-se a bancar os programas do partido, que classificou de produções caríssimas e que Martinez lhe disse ter recebido de Delúbio a oferta para manter pagamentos regulares ao partido. Jefferson disse que o aconselhou a não aceitar:

¿ Isso escraviza. Vão nos negar acesso ao poder e vão nos escravizar ¿ teria dito.

Ao longo do depoimento, Jefferson foi insistentemente questionado sobre o destino que deu aos R$4 milhões que afirmou ter recebido do PT como parte de um acordo eleitoral em 2004. Ao iniciar o depoimento, ele assegurou que o dinheiro ficara num cofre. Em seguida, pressionado pelo deputado Fernando Coruja (PPS-SC), revelou que distribuiu o dinheiro sem participação da direção partidária, entre ¿companheiros e candidatos¿. Mas recusou-se a revelar os beneficiados.

Todo o tempo, Jefferson procurou desvincular o PTB do esquema do mensalão.

¿ Nosso movimento foi na eleição.

Jefferson: acordo de R$20 milhões

Segundo Jefferson, o acordo inicial com o PT, em 2004, previa a entrega de R$20 milhões. O deputado relatou inclusive a reação do ex-presidente do PT José Genoino, que não teria considerado a conta pesada. Mas só R$4 milhões foram recebidos.

¿ Recebemos R$4 milhões em duas malas, uma com R$2,2 milhões, e outra com R$1,8 milhão, para pagar despesas do partido. Assumi como pessoa física, com o todo o risco. Assumi o caixa dois. E o que fiz, não vou revelar.

Sentado ao lado de Jefferson, o vice-presidente da CPI , deputado Paulo Pimenta (PT-RS), pôs em xeque a tese do destino do dinheiro.

¿ Se todos os partidos aliados estabeleceram acordos eleitorais com o PT, por que razão acreditar que era o Delúbio Soares quem estabelecia para onde ia o dinheiro? Valdemar e Correa vão usar para mensalão, o do Roberto Jefferson é para campanha! ¿ questionou Pimenta.

Os governistas não desistiram:

¿ Se é que existiu o mensalão, o seu PTB está nele até o pescoço. Ou então o que era isso que o PTB recebia do carequinha? ¿ atacou a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), exibindo uma lista de 13 repasses ao partido de Jefferson de 2003 e 2004.

Jefferson afirmou que a retirada de R$2,4 milhões para Emerson Palmieri, diz respeito aos R$4 milhões e não se trata de mensalão.

¿ O Emerson não sacou no Banco Rural. Recebeu na sede do PTB.

Jefferson reconheceu também saques de R$200 mil feitos por Alexandre Chaves, ex-motorista de Martinez. Segundo ele, foi um pedido feito a Delúbio, depois da morte de Martinez, para resolver problemas da filha de Alexandre.

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