Título: Delúbio visitou Dirceu 14 vezes no Planalto
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 05/08/2005, O País, p. 8

Agenda do ex-ministro mostra que ele tinha contatos freqüentes com os dirigentes petistas afastados no atual escândalo

BRASÍLIA. A agenda do deputado federal José Dirceu (PT-SP) mostra que, quando era chefe da Casa Civil, ele manteve relações próximas com os hoje ex-dirigentes do PT afastados após o escândalo protagonizado pelo empresário Marcos Valério de Souza, suposto operador do mensalão. O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, por exemplo, teve 14 encontros registrados com Dirceu na agenda que está sendo investigada pelo Congresso, metade deles para audiências a sós com o então chefe da Casa Civil no período de janeiro de 2003 a maio de 2005.

O ex-secretário-geral do partido Sílvio Pereira ¿ que deixou o PT depois de ter reconhecido que recebera uma caminhonete Land Rover de presente da GDK Engenharia, uma fornecedora da Petrobras ¿ teve 16 encontros com o ex-chefe da Casa Civil. Já o ex-presidente do PT José Genoino foi o dirigente do partido que teve menos encontros com Dirceu: nove audiências registradas na agenda do Palácio do Planalto.

Os dirigentes do PT participaram de encontros tanto com empresários recebidos no gabinete de Dirceu no 4º andar do Planalto quanto com outros ministros. Em 7 de agosto de 2003, por exemplo, Dirceu recebeu o presidente da Usiminas, Rinaldo Soares, acompanhado de Delúbio e do próprio Marcos Valério.

A Usiminas surgiu no noticiário sobre a crise política depois que o deputado federal Roberto Brant (PFL-MG), ao ser flagrado tendo recebido dinheiro das contas de Valério, disse que se tratava de uma doação por fora da contabilidade oficial para a sua campanha eleitoral que a empresa quis fazer por intermédio de uma das agências do publicitário.

Além deste encontro, Valério tem outros dois registrados na agenda de Dirceu nos quais acompanhou dois banqueiros: o presidente do Banco Espírito Santo no Brasil, Ricardo Espírito Santo, em 11 de janeiro deste ano, e a presidente do Banco Rural, Katia Rabelo, no dia 5 de fevereiro de 2003.

Ministros e petistas reunidos

Outro exemplo da presença freqüente dos petistas no Planalto foi a participação de Genoino, Delúbio e Sílvio numa reunião em 8 de janeiro de 2003 com os ministros Antonio Palocci (Fazenda) e Dilma Rousseff (na época, Minas e Energia). Genoino, Pereira e Marcelo Sereno, que foi assessor especial de Dirceu e deixou a Casa Civil para assumir a Secretaria de Comunicação do PT, também participaram em 9 de fevereiro de 2004 de uma reunião com Dilma e o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra.

Mesmo com a rotina de encontros e conversas com petistas, Dirceu disse no Conselho de Ética da Câmara estava completamente afastado das tarefas de direção do PT e que não poderia assumir responsabilidade pelos erros da cúpula do partido.

¿ Tenho consciência da gravidade da situação, da tragédia que se abateu sobre nós do PT, sei da angústia de milhares de petistas e de eleitores de Lula, sei da gravidade dos erros dos dirigentes do PT, mas só respondo pelos atos dos quais participei ¿ declarou o ex-ministro.

A assessoria de Dirceu informou que era natural acontecer reuniões com dirigentes partidários na Casa Civil porque eles faziam parte da coligação que dava sustentação e apoio político ao governo Lula.