Título: CHORO E COLHEITA DE MAMONA
Autor: Luiza Damé
Fonte: O Globo, 05/08/2005, O País, p. 11

Presidente se emociona ao lembrar da mãe e de seu passado como retirante

CANTO DO BURITI (PI). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou ontem o segundo dia de viagem ao Nordeste mantendo discurso e jeito de candidato. Lula colheu mamona sob o sol escaldante do sertão piauiense ao visitar uma fazenda em Canto do Buriti, a 460 km de Teresina. Discursando para uma platéia de agricultores, chorou ao lembrar da mãe e da sua história de retirante nordestino.

¿ Nunca vi minha mãe, por pior que fosse a situação, perder a esperança. Não tinha jeito de você ver minha mãe sentar numa mesa, mesmo quando não tinha comida, e perder a esperança ¿ disse, emocionado.

Por essa razão, segundo o presidente o governo está fazendo investimentos valiosos na região. Ele disse que já estão assegurados mais de R$4 bilhões do BNDES e de fundos constitucionais para a construção da Transnordestina. Mas errou ao dizer que a ferrovia interligará vários países, e vez de estados. Ele também anunciou a construção, esse ano, da rodovia 101, ligando Natal (RN) a Bahia, passando por seis estados, e confirmou para breve a construção da refinaria em Pernambuco, parceria da Petrobras com a PDVSA.

Ao lado do marido, a aposentada Isabel Dias Ribeiro, de 79 anos, procurava um lugar próximo ao palanque enquanto aguardava a chegada do presidente em Elizeu Martins, em frente à obra da subestação da Chesf, de mais de cerca de R$40 milhões, que será inaugurada este ano.

¿ Se ele se candidatar dez vezes, voto nele ¿ disse.

Lula afirmou que voltava para Brasília muito mais convicto de que o Brasil tem jeito, mas que levará tempo para consertar os problemas herdados em 500 anos. Ele desembarcou às 14h30m em Elizeu Martins, a 500 quilômetros de Teresina, para inaugurar um trecho recuperado de 410 quilômetros da BR-135. Visitou a fazenda Santa Clara, núcleo produtor de mamona e participou de cerimônia alusiva à colheita, em Canto do Buriti.

Na fazenda Santa Clara, um núcleo de produção comunitária de mamona, ele visitou a casa de um agricultor. As 619 famílias têm escola, assistência médica, centro de atividade cultural e pagam com uma parte da produção o aluguel da casa:

¿ Quando chego num lugar como esse, numa região historicamente pobre do Piauí, não vejo em vocês a cara de desesperança. Mas a cara de pessoas que com suor levam o sustento para a família.