Título: CENÁRIO POLÍTICO JÁ AFETA CLASSIFICAÇÃO DE RISCO DO PAÍS
Autor: Eliane Oliveira/Liane Thedim/Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 05/08/2005, Economia, p. 23

S&P diz que crise não desestabilizou a economia, mas impede agência de elevar `rating¿ do Brasil

SÃO PAULO. A presidente da Standard & Poor¿s (S&P) no Brasil, Regina Nunes, disse ontem que a crise política ainda não afetou a estabilidade macroeconômica do país, mas já inviabilizou qualquer possibilidade de a agência de risco elevar sua classificação para o Brasil, que é de BB- para moeda estrangeira.

¿ A crise política mata a parte estrutural (da economia) que daria a chance de elevação do rating brasileiro ¿ afirmou ela, acrescentando que a S&P não pode elevar sua classificação baseada apenas em números.

Regina, que participou de seminário promovido pelo Conselho das Américas, da Câmara Americana de Comércio de São Paulo (Amcham), disse que o país perde neste momento a oportunidade para avançar em outras reformas estruturais importantes para o crescimento sustentado da economia.

¿ Para o Brasil, que faz um sacrifício maior do que outros países que têm rating semelhante, ficar no mesmo lugar significa andar para trás ¿ afirmou ela, que se disse surpresa pelo volume de denúncias de corrupção.

A diretora da S&P para a América Latina, Jane Eddy, disse que a agência não deve mudar a nota do Brasil antes das próximas eleições presidenciais, a não ser que a crise se agrave muito.

Convidado para encerrar o seminário, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que todas as economias, inclusive a do Brasil, são vulneráveis a problemas. Fazendo uma analogia com o corpo humano, ele afirmou que os bons fundamentos da economia brasileira a tornam mais resistente a eventuais choques.

¿ Toda economia é vulnerável, mas a analogia que se faz é com o ser humano: não há pessoa que seja invulnerável a doenças. Mas a economia, tal como um corpo mais saudável, é muito mais resistente, tem muito mais condições de passar pelos problemas ¿ disse Meirelles.

Em seu discurso, ele comemorou a redução da inflação e alfinetou os críticos:

¿ Ao contrário do que muitos temiam, a política monetária funciona no Brasil, sim senhor. Alguns podem não gostar, mas para mim, isso é uma excelente notícia.

Meirelles evitou responder a uma pergunta sobre o impacto da crise política numa eventual melhora da classificação de risco do país. Segundo ele, é preciso ter cautela e serenidade em momentos de turbulência.

Para o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, os números sobre a situação econômica do país ¿não convergem¿, lembrando que o risco-país hoje é menor do que há cinco meses, quando a crise política não existia. Segundo Furlan, as empresas de rating são conservadoras e ¿levam um tempo a mais para ficar convencidas¿:

¿ Mais hora, menos hora, o trabalho do governo será melhor percebido.

Perguntado se a punição dos envolvidos no escândalo político poderia melhorar o rating do país, ele disse que ¿provavelmente sim¿. Furlan voltou a criticar o pessimismo dos empresários em relação ao rumo da economia.

¿ Quem apostar no Brasil vai se dar bem ¿ disse o ministro para uma platéia formada por empresários e representantes de bancos.