Título: HIROSHIMA E NAGASAKI, RENASCIDAS DAS CINZAS NUCLEARES
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 05/08/2005, O Mundo, p. 29

Cidades japonesas superaram previsões pessimistas e conseguiram se tornar importantes centros urbanos

HIROSHIMA, Japão. Yoshinori Obayashi, de 76 anos, um aposentado que sobreviveu à bomba atômica de Hiroshima em 1945 e hoje faz parte da ONG Voluntários da Paz fazendo palestras em universidades pelo mundo, lembra claramente do que lhe diziam logo após o bombardeio: por no mínimo 75 anos, nenhuma planta nasceria na área destruída e radioativa de Hiroshima. Em Nagasaki, segundo alvo do bombardeio atômico, outro sobrevivente, Katsuji Yoshida, de 73 anos, ouviu o mesmo.

Plantas começaram a renascer um ano depois

O que os dois sobreviventes ¿ ou hibakushas, como são conhecidos no Japão ¿ não esperavam é que no verão do ano seguinte, grama e plantas começassem a nascer nos escombros das cidades.

¿ Era o sinal que os moradores receberam provando que as cidades deveriam ser reconstruídas no mesmo lugar ¿ lembra Yoshinori. ¿ E assim começou o movimento pelo renascimento das duas cidades.

Quem olha para Hiroshima e Nagasaki hoje, suas populações de 1,1 milhão e 500 mil pessoas, respectivamente, suas ruas cheias de carros e prédios modernos exibindo gigantescos painéis digitais, talvez não imagine a herança de destruição que foi preciso administrar até que das cinzas brotassem de novo a vida urbana.

¿ Inicialmente, a cidade foi reconstruída pelas mãos dos próprios sobreviventes. E graças à ajuda de pessoas e organizações de outros países, a cidade foi reerguida dos seus destroços ¿ diz o prefeito de Hiroshima, Tadatoshi Akiba.

A primeira providência era arrumar dinheiro para a reconstrução num país ocupado pelos EUA e sob austera administração. Sem dar um tom raivoso ao empreendimento, os moradores das duas cidades conseguiram ajuda oficial do governo e a aprovação do QG americano em Tóquio, chefiado pelo general Douglas MacArthur.

Curiosamente, tanto em Hiroshima quanto em Nagasaki a reconstrução se deu ao redor do projeto de criação das respectivas Praças Memoriais da Paz. Em Hiroshima, o projeto foi idealizado pelo arquiteto Kenzo Tange e construído a partir das ruínas do Centro de Promoção Industrial da prefeitura, hoje conhecido como Cúpula da Paz. Em Nagasaki, a praça de Oka-Machi foi erguida no lugar da antiga prisão de Urakami. Aos poucos, as cidades foram refazendo suas infra-estruturas e empresas foram atraídas para a região.

Prefeitos se preocupam com crescimento econômico

Hoje, os prefeitos de Hiroshima e Nagasaki se preocupam em garantir o crescimento de suas cidades num Japão economicamente estagnado. Suas agendas estão repletas de tarefas, como a análise de cronograma de obras e projetos de atração de investimentos. Mas a semana de aniversário dos 60 anos da bomba ainda é considerada parte de uma reconstrução que ainda não terminou.

¿ Ainda hoje estamos lidando com a ameaça nuclear. E Hiroshima e Nagasaki têm a tarefa de lembrar ao mundo a importância da paz. Sempre ¿ diz Tadatoshi Akiba.