Título: BRASIL MAIS LONGE DO CONSELHO DE SEGURANÇA
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 05/08/2005, O Mundo, p. 30

China e Estados Unidos fazem acordo para se opor à proposta do G-4, rejeitada também pela União Africana

BRASÍLIA, ADIS ABEBA e PEQUIM. O Brasil sofreu ontem duas duras derrotas em sua ambição de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Depois de China e EUA fecharem um acordo para impedir que os países do Grupo dos Quatro (Brasil, Alemanha, Japão e Índia) sejam aceitos como membros permanentes, a União Africana (UA) rejeitou um pedido do G-4 de apoio a sua proposta de reforma no conselho ¿ o órgão mais importante da ONU, responsável por decisões cruciais, como intervenções militares e envio de tropas de paz.

Reunida em Adis Abeba, a capital da Etiópia, a UA ratificou seu próprio plano e ainda decidiu criar uma comissão de dez chefes de Estado africanos para pressionar por sua aprovação. A decisão dos 53 países da UA significa que provavelmente nem sua proposta nem a do G-4 conseguirão os dois terços de votos necessários para serem aprovadas pela Assembléia Geral da ONU. Dificultando ainda mais as mudanças no conselho, o embaixador da China na ONU, Wang Guangya, acertou com o recém-nomeado embaixador americano John Bolton um esforço conjunto para impedir a aprovação da proposta do G-4.

Até momentos antes do fim da reunião em Adis Abeba, o Itamaraty contava com os 53 votos da África, que poderiam pôr fim às divergências na ONU.

¿ A reforma é uma necessidade, mas o processo ainda está em evolução e o tema não é simples. O Brasil e o G-4 estão convencidos de que estão com a causa certa e continuaremos a trabalhar com todos os países, inclusive os africanos ¿ comentou o chanceler Celso Amorim.

Fontes do Itamaraty, contudo, diziam que a posição da UA era irrealista e dificultaria a reforma no conselho.

¿ Os países que são contra a reforma devem estar satisfeitos com esse quadro de clara divisão e vão usar isso como pretexto para votarem contra ¿ disse um diplomata brasileiro.

Líbia, Egito e Argélia teriam provocado divisão

A expectativa do Brasil era de que ainda este mês, com apoio dos africanos, a ONU aprovasse a ampliação do número de membros do conselho. Com a divisão ¿ provocada, segundo diplomatas, por Líbia, Egito e Argélia ¿ a votação só ocorrerá em setembro, numa estimativa otimista. Esses três países, assim como Argentina e Espanha, defendem meramente o aumento do número de membros não-permanentes no conselho.

Atualmente, 15 países integram o conselho. Cinco deles são membros permanentes, com direito a veto em decisões (EUA, China, França, Reino Unido e Rússia), e os outros são rotativos, com mandatos de dois anos. A formação é a mesma desde 1945. O G-4 propõe a inclusão de dez novos membros, sendo seis deles permanentes ¿ mas abrindo mão do direito a veto por 15 anos ¿ e os outros rotativos. Quatro desses seis permanentes seriam os próprios membros do G-4 e os outros dois, países africanos.

A proposta da UA é semelhante à do G-4: os africanos querem também seis novos membros permanentes, mas com direito a veto, além de cinco rotativos, ou seja, um a mais do que o G-4 sugere. Na África, Egito, Nigéria e África do Sul são os principais candidatos às duas vagas de membros permanentes almejadas.

Com agências internacionais

*Correspondente em Pequim