Título: Contas externas têm saldo recorde
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Globo, 26/07/2005, Economia & Negócios, p. B1

Sem refletir a crise política, superávit no primeiro semestre é de US$ 5,28 bilhões, o maior desde 1947, início da série histórica

BRASÍLIA As contas das transações do Brasil com o exterior fecharam o primeiro semestre deste ano com um saldo positivo de US$ 5,28 bilhões, o maior já registrado pelo Banco Central desde o início da série histórica, em 1947. O bom desempenho das contas externas foi puxado pelas exportações de mercadorias, que somaram US$ 53,68 bilhões no período. Foi dinheiro suficiente para cobrir os gastos com importações e também outras despesas do País no exterior, como juros e remessas de lucro, além da conta de serviços, que inclui itens como viagens internacionais, aluguel de equipamentos e royalties e licenças. Juntas, as despesas com serviços e rendas somaram US$ 16 bilhões. Embora ainda positivas, as contas mostraram perda de fôlego em junho. O saldo das transações correntes fechou o mês em US$ 1,25 bilhão, 38% inferior ao registrado em igual mês de 2004, quando houve um superávit de US$ 2,02 bilhões. A piora no desempenho se deve ao aumento das despesas com serviços e rendas - que passaram de US$ 2,07 bilhões para US$ 3,06 bilhões no mês - e das importações - que subiram de US$ 5,52 bilhões para US$ 6,17 bilhões. As exportações do País no mês passado superaram as compras externas em US$ 4 bilhões, mas o ritmo começa a apresentar diminuição em razão da persistência do real mais valorizado em relação ao dólar do que estava no ano passado. Os dados divulgados ontem não mostram nenhum reflexo da crise política, segundo avaliou o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes. Segundo ele, a cotação baixa do dólar ante o real explica alguns dados negativos divulgados ontem, como o aumento das remessas de lucro e dividendos e a queda na taxa de rolagem da dívida externa. Por outro lado, um sinal de que a confiança se mantém é o ingresso de investimentos estrangeiros diretos. Neste mês, até ontem, havia ingressado US$ 1,2 bilhão. As remessas ao exterior de lucros e dividendos deram um salto de 70% no primeiro semestre deste ano, em comparação à primeira metade de 2004. Foram remetidos ao exterior US% 6,11 bilhões de janeiro a junho deste ano. De acordo com Altamir Lopes, o movimento foi provocado pelo câmbio. As multinacionais aproveitaram o dólar barato para mandar seus resultados para o exterior. Além disso, as empresas estão enviando para as sedes, neste ano, os lucros obtidos no ano passado. Somente em junho, as remessas ao exterior totalizaram US$ 1,04 bilhão, enquanto o registrado no mesmo mês de 2004 foi US$ 370 milhões. Para o governo, a tendência a partir de agora é de que haja uma " acomodação" dessas saídas. Lopes informou que isso já pode ser notado nos primeiros dias de julho. Até ontem, o envio de lucros e dividendos ao exterior estava acumulado em US$ 441 milhões, devendo fechar muito próximo aos US$ 475 milhões remetidos em julho do ano passado. "Já começamos a ver uma acomodação", comentou o técnico do BC. A conta de capital, que registra os empréstimos, financiamentos e investimentos estrangeiros ao País, ficou negativa em junho em US$ 1,87 bilhão, resultado influenciado pela decisão do governo brasileiro de antecipar o pagamento de parcelas dos empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e também pela quitação de duas parcelas de juros - equivalentes a US$ 1,6 bilhão devidos aos investidores que adquiriram títulos emitidos pelo governo. Muito embora os investimentos estrangeiros tenham chegado a US$ 1,32 bilhão no mês passado, contra US$ 738 milhões de junho de 2004, os pagamentos fizeram o resultado global do balanço de pagamentos mês passado ficar negativo em US$ 431 milhões. No semestre, no entanto, o total é positivo em US$ 9,63 bilhões.