Título: PF INDICIA ASSESSOR DE EX-MINISTRO ADAUTO
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Fonte: O Globo, 06/08/2005, O País, p. 5

José Luiz Alves, que trabalha com o hoje prefeito de Uberaba, confirmou ter recebido R$300 mil

BELO HORIZONTE, BRASÍLIA e SÃO PAULO. A Polícia Federal indiciou ontem em Belo Horizonte duas pessoas acusadas de envolvimento no esquema de pagamento a deputados da base aliada: José Luiz Alves, assessor do ex-ministro dos Transportes e hoje prefeito de Uberaba, Anderson Adauto, que confirmou ter retirado R$300 mil do Banco Rural; e Rodrigo Barroso, ex-presidente da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte na gestão do prefeito Fernando Pimentel (PT), que confirmou aos policiais ter sacado R$274 mil.

Os dois não quiseram revelar mais detalhes à polícia e se esquivaram de responder outras perguntas, sob a alegação de que poderiam fornecer provas para se incriminar. Diante disso, os delegados Luiz Gustavo Goes e Cláudio Ribeiro decidiram indiciá-los. Alves e Barroso podem responder por crime eleitoral e lavagem de dinheiro.

Os dois delegados também ouviram Geiza Dias, gerente-administrativa da agência de publicidade SMP&B. Segundo o delegado Luiz Gustavo Góes, ela reconheceu nomes que estavam na lista das pessoas que teriam recebido dinheiro do empresário por meio da SMP&B.

Outras testemunhas ouvidas na Polícia Federal em Belo Horizonte foram Cristiano Paiva, assessor da deputada estadual Vanessa Lucas (PSDB), -que negou ter recebido dinheiro de Marcos Valério, e o economista Fernando César Rocha, que teria recebido R$100 mil da SMP&B.

Em Brasília, o presidente do PT no Distrito Federal, Vilmar Lacerda, reconheceu ontem, em depoimento à PF, que recebeu dinheiro de Valério, mas responsabilizou o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares pelo caixa dois. Lacerda disse que recebeu R$385 mil de empresas de Valério e, em seguida, reconheceu que não declarou os recursos à Justiça Eleitoral e à Receita Federal, como exige a lei.

Petista culpa Delúbio

O vice-presidente do PT local, Raimundo Ferreira, também culpou Delúbio pelo caixa dois.

- Fiz tudo de boa fé e em confiança ao senhor Delúbio Soares. Foi um erro do tesoureiro nacional do PT, que nos envolveu em todos esses problemas - disse Lacerda, depois de depor ao delegado Luiz Flávio Zampronha.

Pela lista entregue por Valério, Lacerda recebeu R$235 mil entre setembro e outubro de 2003. Mas, pelas contas do dirigente petista, os repasses foram ainda mais volumosos. Ele reconheceu o recebimento de R$381 mil. Parte dos recursos foram sacados na agência do Banco Rural, em Brasília, e parte foi recebida em Belo Horizonte por dois funcionários do partido.

Em São Paulo, a PF adiou para a próxima semana os depoimentos do publicitário Duda Mendonça e da sócia dele Zilmar Fernandes. A PF queria interrogar os dois ainda ontem, mas um dos advogados de Zilmar pediu o adiamento porque a cliente estava na Bahia. Zilmar teria recebido R$15 milhões repassados por Valério. O depoimento deveria ser dado à PF em São Paulo. Um dos advogados de Márcia Vilanese Cunha, mulher do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), também pediu o adiamento do depoimento da cliente. Márcia teria recebido R$50 mil.

Os adiamentos dos depoimentos têm irritado os delegados encarregados da investigação. Para a PF, muitos querem deixar para depor por último como uma tática para diminuir os riscos de versões contraditórias.

- Isso tem sido comum. Depoentes querem conhecer tudo sobre o caso para depois melhorar as explicações - disse um dos investigadores do caso.